A Riqueza das Nações

Os bens e serviços produzidos no mundo têm-se renovado e alargado constantemente ao longo da história em todo o tempo e em todos os lugares. Essa renovação e alargamento tem sido marcada, sobretudo, pela evolução tecnológica. Pela inovação e pela investigação, a um ritmo cada vez maior e com ciclos cada vez mais curtos.
Os países que mais investem na formação e na Investigação e Desenvolvimento (I&D), quer por via do setor publico quer por via do setor privado, conseguem melhores resultados no enriquecimento do país e da população. Muitos deles são países pequenos e com parcos recursos naturais.
A persecução no tempo, de forma continuada, da acumulação de capital e de conhecimento e o desenvolvimento de estruturas e instituições que deem suporte e dinâmica à inovação determinam o nível e o perfil de riqueza dos países.
A qualidade das instituições de ensino, do pré-escolar ao superior, as instituições de I&D e o espírito empreendedor, são os principais instrumentos de progresso e desenvolvimento dos países.
Portugal esteve demasiado tempo com níveis demasiado baixos de escolaridade.
Tivemos demasiados anos altas taxas de analfabetismo. Em 1970 ainda tínhamos um quarto da população analfabeta e apenas 1% com ensino superior.
Ao longo dos anos hostilizamos frequentemente os grandes empresários. Não premiamos o empreendedorismo e castigamos implacavelmente o insucesso, uma das mais poderosas formas de fazer crescer e aprender. Ao contrário, por exemplo, dos americanos.
Temos hoje a geração mais bem formada de sempre. A população entre os 25 e os 34 anos com formação superior era no ano 2000 de 13% e em 2020 de 40%. Milhares de jovens saem anualmente formados das faculdades. Temos muitas multinacionais a contrata-los, frequentemente para centros de desenvolvimento. Se é verdade que se cria emprego qualificado, não é menos verdade que deveríamos ter mais propriedade industrial nacional a crescer com eles. Isso só é possível com mais empreendedorismo, investigação e desenvolvimento, feito pelas próprias empresa, com mais e melhores ligações entre as empresas e as universidades e com melhor desempenho dos centros tecnológicos de interface.
Também a cooperação entre as empresas para em conjunto capitalizarem valor nas cadeias industriais é algo que deve ser reforçado.
Vivendo o mundo uma irreversível e acelerada tendência de intensificação tecnológica, e de incessante inovação, os ministérios da educação e o da ciência podem fazer tanto pela economia como o próprio ministério da economia.
Tendo estado recentemente na Alemanha, na feira de Hannover, a maior feira industrial e de tecnologia do mundo e o maior “altar” de sofisticação tecnológica e de inovação, pude acompanhar a dinâmica das empresas e a ação mobilizadora do nosso governo.
Por detrás dos equipamentos e sistemas expostos há países, há empresas, há profissionais, há sistemas de ensino, há ecossistemas de investigação e de inovação.
Portugal tem que ter a ambição de criar produtos mais complexos, serviços mais sofisticados, de desenvolver sistemas de produção mais avançados. De incorporar mais tecnologia, mais conhecimento e mais inovação.
Os produtos de hoje são, cada vez mais, concentrados de conhecimento.
Só combinando assertivas políticas públicas com dinâmicas empresariais e dinâmicas de conhecimento de forma duradoura e consistente se conseguem bons resultados. Se consegue eficiência e produtividade coletiva á escala nacional.
Não temos o tempo todo do mundo. Temos perdido lugares no ranking do desenvolvimento. Ainda recentemente foram publicados os dados de 2021, em que Portugal baixou de 36º para 42º no ranking da competitividade. Temos que acelerar o ritmo, não nos podemos desviar com provincianismos que consomem recursos e energias e nos desviam do essencial.
Temos uma população relativamente envelhecida, uma baixa taxa de natalidade e um baixo nível de produtividade. Precisamos de acelerar os processos de inovação produtiva, de introduzir mais I&D na economia para garantirmos mais rendimento, defendermos o estado social e a qualidade dos serviços públicos e melhorar os níveis de salários e pensões.
De salientar o objetivo nacional de passar a despesa em I&D de 1,5% do PIB, atualmente para 3% em 2030.
A riqueza das nações e o seu nível de vida só se defende com estratégia e ação assertivas continuadas no tempo e com o contributo de todos.