SANFONINAS

Mangando, mangando…
… as sentenças se vão dando!
Pode, num primeiro momento, ser um sorriso que desponta ou, até, uma gargalhada boa. Acha-se piada e, porventura, nem se enxerga de imediato o âmago da questão. Haverá, contudo, um dia em que a imagem sai, mui sorrateira, do inconsciente para onde rapidamente a havíamos alijado e entra, pé ante pé, no domínio do consciente, a obrigar-nos a pensar.
Recordo, amiúde, uma das últimas entrevistas de Manuel da Fonseca, em que, a dado passo, confessa ao entrevistador:
– Uma das coisas que mais me impressiona é a pressa em que as pessoas andam na rua, sem olharem para nada, é só andar, andar!
Não terão sido estes os termos exactos; na altura, não tive o cuidado de anotar a fonte. Manuel da Fonseca, de Santiago do Cacém, o grande evocador da «Planície Heróica», morreu em 1993; vivera ele os nossos dias e não só se impressionaria, como era capaz de ficar estarrecido. Aliás, tudo nos convida agora à velocidade, ao não «perder tempo», como se o tempo se pudesse perder… «Precisas de dar maior velocidade ao teu motor de busca, homem! Isso está duma lentidão de morte!…».
E ocorre perguntar: ¿Ter mais uns segundos… para quê? Para melhor dominares o fluxo do teu pensamento? Sim, que esse fluxo pode dominar-se, sabias? E dá muito jeito, quando vamos no autocarro ou quando esperamos por ele ou enquanto o almoço não chega… Será ocasião de alinhavar ideias, arquitectar planos…
Duas imagens mui positivamente me surpreenderam há dias e não posso deixar de as partilhar: o letreiro à entrada dum restaurante e a frase da rolha dum vinho. O letreiro, pelas razões lógicas: o ar de brincadeira das frases escritas como a gente as pronuncia, uma brincadeira de alcance bem profundo, já se sabe; o caso da rolha, porque, ao jeito alentejano, devagar, devagarinho, como se diz das gentes de lá, agarra no conceito (como eu gosto, agora, desta palavra tão na moda!…) e faz através dele sugestiva publicidade.
Abençoados!