A importância que se dá….


O Sr. Miquelino era um homem simples, mas não simplório. Desde criança, soube o que era trabalho, vindo de família pobre, mas honrada, cuja mentira e roubo era equivalente a uma sessão de pau de marmeleiro – para os mais jovenzinhos, a disciplina do antigamente era agraciada por esta ferramenta de madeira bem rija, para “amaciar” a rebeldia mais resistente.
Foi com grande brio, que o Sr. Miquelino conseguiu um emprego no centro de saúde no vilarejo onde morava. Sempre conotado de “pouco estudo”, sempre modesto nos empregos considerados “pouco qualificados”, desde ajudante de carpinteiro a trabalhador agrícola, sempre aceitou o seu fado, de trabalhar para sustento e não cobiçar o que não tem.
Trabalhar com doutores e enfermeiras seria um salto enorme, para quem lidava com ovelhas e couves. Pessoas com elevado conhecimento, estudiosos dos calhamaços que versam doenças e palavras complicadas, dignas de respeito pela sua profissão, comparado com um humilde homem que completou a 4ª classe (agora denominado por 1ºciclo) com muita dificuldade, era uma disparidade gigantesca.
O Sr. Miquelino era o homem dos sete ofícios, sabia consertar problemas elétricos, arranjar canos, cimentar paredes, cuidar dos canteiros do centro de saúde, assim como tinha uma postura discreta perante a ferida mais complicada ou o desacato mais inoportuno. Respeitava a privacidade e o sigilo quase semelhante a um clérigo, e tinha uma empatia inabalável, virtude quase extinta nos dias de hoje. De fato, tal honestidade e honradez era alvo de critica, pelas pessoas que ele se sentia tão inferiorizado. Os exemplares superiores da hierarquia, onde Sr. Miquelino trabalhava, escarneciam com risota, a disponibilidade deste individuo que ajudava no podia e sabia, a troco de um simples “Obrigado!”. Seria de esperar um reconhecimento sentido, perante tantos consertos e ajudas para além do seu emprego oficial. Seria… mas não! Foi avisado de usurpação de funções, e foi proibido de realizar mais arranjos, por parte dos novos elementos dos departamentos dos equipamentos. A sensação de impotência e desvalorização, não só sentida por quem tem palavreado… O Sr. Miquelino, mantém a sua dignidade, e aceitou que as coisas mudam. Até aceitou, que quem devia de o valorizar, responsabilizava pelos atrasos de arranjos e consertos que estava proibido de fazer.
No final, o silêncio do Sr. Miquelino que foi julgado de pouca compreensão, revelou um caracter de fazer corar os mais letrados. Afinal a dedicação do trabalho, vale mais que a arrogância. E não é necessário passar receita para esta conclusão!
“Qualquer semelhança com pessoas ou fatos, será mera coincidência.”