TEMPO SECO

A Democracia da Chuva
“(…) Clara, doce ou gelada,/ Verde, azul ou transparente,/ Sem a água não há nada./ Nem floresta, nem semente”. (Segunda estrofe da poesia: “Água doce, doce água” de Evelin Hein).
Sem ela não há nada!… Não obstante, ser tão detestada, mal amada e perversamente intitulada de “mau tempo”, por inúmeros ignorantes deste país, que não se coíbem do louco desejo, de terem todos os dias do ano, e todos os anos das suas vidas, somente sol, não havendo espaço para ela, nos seus dementes anseios. Contudo, sem medo e sem vergonha, ela vai caindo ignorando as ofensas. Abençoada ela seja!
Nas últimas semanas tem chovido, com a frequência e índices pluviométricos normais, para a época do ano, particularmente na região de Lisboa o que mobilizou um exército de repórteres das tvs, que ignorando o ditado popular: “dos Santos ao Natal, é inverno natural”, apresentaram, esta normalíssima atividade da natureza, como uma verdadeira catástrofe. Um anormal locutor da CMTV, iniciou o telejornal das dezanove horas do passado dia 26, da seguinte forma: “Pensei que nos tínhamos livrado dela, mas não (…)”. Mas, apesar da sacrílega ignorância que sempre a critica: ela, e muito bem, cai, não pedindo licença a ninguém.
Indiferente a que autarcas incompetentes e técnicos camarários corruptos, que durante as décadas desta democracia selvagem, tomaram de assalto o país inteiro, com um absolutismo pleno de indiferença e de destruição total dos preceitos que regem as atividade naturais, vedando a sua liberdade e obstruindo os seus caminhos para o mar. Ainda assim, e abrindo acessos vedados, ela continua a cair.
Se provoca inundações em ruas, e vai pelas casas adentro, é porque os coletores pluviais foram mal dimensionados e todo o sistema de drenagem não é limpo regularmente, embora um sem fim de artistas municipais, que recebem mensalmente os seus salários, para proceder à sua limpeza, se ocultem nos recantos escondidos, para justificarem o tempo e o seus salários. Desgraçadamente não há fiscalização neste país, e se a houvesse: também ela precisaria de ser fiscalizada. Alheia a estas incúrias e falta de caráter humano, mesmo assim, ela vai caindo.
Há muitos que desconhecem, ou não querem sequer pensar: que sem chuva não temos água, e sem água ninguém pode viver. É um conceito irracional, e de difícil compreensão: se há dois meses estávamos em seca severa, e tendo chovido o normal para a época, já pode parar por agora, porque é mais que suficiente!…
Para aqueles que nasceram, antes deste país, parir a democracia, sabem muito bem, que nos invernos normais, os ribeiros transbordavam e a imensidão das correntes evadia os terrenos marginais, tornando-os mais produtivos.
Se chove quando uns não querem, e não chove quando outros clamam de sede, como agir com tamanha agitação, se não chover quando quer, indiferente ao estranho desassossego, e tamanha ingratidão?!…