Água de poço é de confiança?


A saúde pública foi uma bandeira tão alardeada para o combate da epidemia gerada pelo Covid 19, mas está sempre presente, diariamente, pelas condições de salubridade que detemos. A garantia de ter uma quase ausência de doenças infeciosas, quer por um excelente plano nacional de vacinação, quer por um bom saneamento básico, faz cair nas brumas do esquecimento o sofrimento de perecer por uma poliomielite, ou agonizar por uma enterite. De fato, a omissão destes trágicos episódios, quase sempre descritos por uma avozinha no serão familiar, confirmam atualmente as frases entusiásticas na “penitência” da vacinação: “Oh Sôra Enfermeira, tem mesmo de ser?”.
Um dos benefícios dos cuidados de saúde, é ter confiança na água que é abastecida pela rede pública, devido à constante análise das bactérias e produtos químicos que a água pode conter, e consequente tratamento. Quem prefere consumir água de captação de poços ou furos, ou até recolha e acumulação de água de chuva, deve ter em conta os riscos que pode existir na água recolhida\ captada desta forma. A chuva absorve poeiras, gases ou outros produtos poluentes, para além da contaminação da existência de dejetos animais ou humanos no solo ou superfícies de recolha. Já os furos e poços, conforme a sua profundidade ou localização, podem conter pesticidas e até agentes infeciosos originados pelos dejetos humanos, devido a fossas sépticas construídas de forma insegura.
A pureza de uma água de um furo, muitas vezes ilude pelas suas características físicas, como a cristalinidade, gosto agradável e odor ausente, mas só uma análise cuidada previne patologias graves, tais como hepatites (A e E), gastroenterites, cólera entre outras. Como também, confirma a ingestão de químicos prejudiciais para o equilíbrio do corpo humano, tais como mercúrio ou chumbo, ou deficiência de iodo ou fluor, que provocam problemas da tiroide ou cáries dentárias, respetivamente.
Longe vão os tempos, dos alertas televisivos para a desinfeção ou desinfestação dos poços e furos artesianos do Sr. Engenheiro Sousa Veloso, como forma preventiva de problemas de saúde. Sempre cordial, o Sr. TV Rural, transmitia a humildade de um agricultor de enxada no ombro aliada um conhecimento secular da agronomia que valorizava o que de melhor Portugal tinha: as suas gentes e o que produziam. E sendo a água um bem de primeira necessidade, era muito estimada nessas décadas de esforço e provação. Como dizia esse grande Homem: “despeço-me com amizade.”