lendas, historietas e vivências

AS VIAS HISTÓRICAS NOS ARREDORES DE MANGUALDE
Continuando a rebuscar o que ficou na memória de alguns mangualdenses em imagens de saudade muito sentida, vou começar por percorrer a Estrada da Estação. Esta via que teve por muitas décadas uma serventia indispensável à vida de incontáveis cidadãos. Lembro-me ainda de manhãs das feiras na vila em que a bela estrada ficava pejada de gente, de pessoal, como se dizia ao tempo, que tinha chegado no comboio das sete derreados com os carregos de várias mercadorias que iriam vender na feira. Contudo, ao saírem da gare teriam de percorrer a pé os 3 km e meio até atingir o seu lugar. Por grande sorte estaria um qualquer veículo motorizado ou puxado por animais, à saída da estação, o qual poderia por favor levá-los até à entrada da vila…sim, por favor, porque dinheiro para pagar o frete não havia…Depois da feira… talvez. Dependia do êxito na venda dos produtos. Eram tempos muito apertados e não havia os apoios e dádivas que agora há. A pobreza era a pobreza e… pronto! Quanto muito poderia haver ajudas pontuais de alguém um pouco mais abonado e de bom coração… Apanhando as consequências da segunda Guerra Mundial que ainda se encontrava demasiado activa para lá dos Pirinéus, o povo estava sempre com o coração nas mãos e a barriga vazia. Parte dos seus produtos em grãos, azeite, batatas e outros eram levados para fora do País, por compromissos estatais com as potências amigas. Por isso o povo não ficava, assim, com tanto para vender…aproveitava o que lhe ia restando para recolher alguns escudos na venda da feira já que negociantes não apareciam à porta. Digamos que a economia doméstica em que as mulheres eram o braço forte vivia de trabalho duro e privações. Os homens sempre conseguiam algum modo de ganhar a vida com um negociozito ou emprego em algumas oficinas, pedreiras, ou num comércio local, já que ao tempo não havia pronto- a- vestir a rodos, nem os grandes espaços onde tudo se vende. Era o tempo do pouco dinheiro nos bolsos.
Logo no começo da estrada de paralelos na área do Bairro da Estação havia uns poucos pequenos comércios onde se vendiam alguns produtos da terra – batatas, feijão seco, milho e alguma mercearia; também tinham a secção dos copos, quero dizer que havia o lugar para os homens beberem o vinho carrascão ou o cálice de aguardente. Normalmente eram os viajantes que tinham chegado no combóio e precisavam de uma ajuda líquida que os empurrasse estrada acima, galgando os quilómetros até à vila. Lembro a loja dos Azevedos frente à gare, mais acima a loja de tecidos do Beirão, seguia-se junto à curva a loja do Pimentel. Logo na pequena recta que se seguia estava a loja do senhor Almeida que vendia sobretudo material de construção e já na curva a loja do senhor Alfredo onde se compravam sobretudo tecidos e apetrechos de costura. Recordo-os aqui com muita saudade – para além de venderem variada mercadoria indispensável à vida dos cidadãos, eramos todos MUITO AMIGOS. Em qualquer situação de perigo todos acudiam. Saudosos tempos…