José Milhazes e o comunismo


No dia 9 de Março, tive o prazer de participar numa conversa com alunos do Agrupamento de Escolas de Vouzela e o historiador, jornalista e comentador José Milhazes. Num tom muito informal e quase familiar, o convidado foi abordando vários pormenores da sua vida bem como da (triste) atualidade da guerra que atinge a Europa, que agora partilho com o leitor.
José Milhazes nasceu e cresceu na Póvoa de Varzim. Em 1977, com apenas 18 anos, foi estudar para a União Soviética, por intermédio do Partido Comunista Português, com o sonho de ir para o “paraíso comunista” que depressa se revelou um verdadeiro pesadelo. Licenciou-se em História da Rússia e estabeleceu-se naquele país enquanto tradutor de obras literárias e políticas. Estava lá quando o lado leste da Cortina de Ferro caiu. Algures no meio, saiu do partido, que acusa, de “servilismo total e absoluto em relação à URSS, claro que a troco de dinheiro”.
Em 1989 começou a fazer trabalho jornalístico na TSF e depois noutros media portugueses. Em 2008, doutorou-se. Regressou a Portugal em 2015 com um conhecimento incomparável no panorama português sobre a sociedade, a política e a história russas.
Numa das suas reflexões constatou que por toda a Europa, os principais partidos comunistas ora desapareceram, ora diluíram-se em coligações parlamentares. O PCP é uma exceção. Para José Milhazes “O PCP está de tal forma formatado que nem consegue olhar para os pormenores. É um partido senil e que só não morreu mais cedo devido ao subdesenvolvimento português.”
De facto, o PCP tem vindo a perder força, quer nas urnas, quer no número de militantes. A rota ascendente que desde 2005 protagonizava encalhou em 2019. Chegados a 2022, o número de deputados comunistas desceu para o mais baixo de sempre: meia dúzia. Por toda a Europa, um fenómeno análogo vai acontecendo: os principais partidos comunistas ora mingaram, ora foram ‘engolidos’ por coligações. Portugal é um dos 6 países da União Europeia que ainda mantém representação parlamentar comunista. A perda de votos no PCP deve-se, em medida significativa, à mudança de gerações. Na era dos computadores e da internet, é muito mais difícil convencer os jovens a lutar por ideologias obsoletas e que só criam pobreza.
Para quem lê o jornal oficial do PCP, “Avante”, vê que não há maior defensor do Putin em Portugal do que os comunistas portugueses (e alguns generais Putinistas comentadores na televisões de Portugal!). Ora, os comunistas portugueses são um caso muito interessante. José Milhazes tem uma teoria de que Portugal está sempre cerca de 50 anos atrasado em relação à Europa, começando na Revolução de 1820, que ocorreu 31 anos depois da de 1789, em França. Já para não falar que é um partido retrógrado pois “o vocabulário que eles usam, a maneira como falam no proletariado e na luta e tudo o mais, é um vocabulário da década de 1930”. 
Para terminar Milhazes conta uma piada que escreveu no livro “As minhas aventuras no país dos sovietes”: qual é a diferença entre capitalismo e socialismo? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem; o socialismo é exatamente o contrário!