lendas, historietas e vivências

A ESTRADA DE PARALELOS
Esta insistência nas memórias ligadas a esta via, não terá qualquer encanto para a sociedade mangualdense de hoje. Pois, nem isto espanta, porque a maior parte das pessoas já não existe e os que tomam o seu lugar são na maioria externos e alguns poucos descendentes que aproveitaram a casa paterna depois de restaurada. Deste modo não há a ligação afectiva de outrora. Contudo, há muitas memórias que ainda pretendo assinalar. Por exemplo, quando a linha férrea foi concluída e se realizou a sua inauguração em Agosto de 1882 a Estação de Mangualde passou a ser um lugar de excelência para ver pessoas conhecidas ou passantes que seguiriam a pé, usando os transportes domésticos puxados por animais, um ou outro automóvel ou um transporte colectivo - uma pequena caminheta que ao tempo se encarava como um autobus reluzente e bem cheiroso a novo. Tudo era novidade muito desejada. Os funcionários da Estação eram o Chefe, os Factores, os Carregadores e outro pessoal de apoio à manutenção e bom funcionamento das linhas e respectivos sinais de trânsito.
A chegada do Comboio de passageiros era, para a juventude do lugar e arredores a mais entusiasmante. E vinham, sobretudo ao domingo, assistir à chegada do Rápido considerado o combóio mais importante, donde desciam muitas ocupantes apresentando toiletes chics ou mais cuidadas já que ao tempo precisavam de dar mostras do seu “nível” sócio-económico… Isto era matéria de grande importância para miúdos e adultos já que surgiam perante os olhos arregalados dos observadores, toiletes brilhantes, vestidos da moda, botinhas em vez de sapatos, saquinhos de fitas, em vez de carteiras. Enfim, um mar de chics e um mar de espanto. Também foi introduzido, mais tarde, o comboio internacional SUD- EXPRESS.
Ao tempo, estes não eram os combóios da população trabalhadora do campo ou das oficinas. Assim a maioria da população optava pelos comboios mais populares que tinham carruagens de 1ª 2ª e 3ª classes. Embora os comboios não passassem com muita frequência a visita à Estação era para miúdos e jovens uma espécie de encantamento. Por vezes o comboio expresso não parava e então aqui é que se sentia um tremor porque a velocidade espantava e fazia fugir o mais afoito. Ainda não era o tempo das altas velocidades automóveis e as pessoas ficavam um tanto receosas com a velocidade dum combóio sobre dois carris tão estreitos… Enfim, tempos de descoberta, tempos de alargar os horizontes criar novas mentalidades.