lendas, historietas e vivências

ESTRADA DA ESTAÇÃO

Descrever aqui todas as memórias que nos ligam à ESTRADA DE PARALELOS da Estação a Mangualde era um nunca mais acabar. Calcorrear aquele percurso de 3 kms de curvas e contra curvas subindo para a vila até chegar ao colégio não seria fácil se, quando em grupo de seis ou sete jovens, não se recorresse à habitual brincadeira.Se o tempo era bom !…No inverno com chuva e ventos gélidos soprando em nortada…aí havia que recorrer a muitos agasalhos e segurando o guarda-chuva com força tentávamos cumprir a nossa missão de chegar às aulas… completamente encharcados. Assim, bem preferíamos os dias de neve forte, (que saudades!) o chapéu carregado duma grossa camada, não era fácil de segurar decidindo-se fechá-lo e aguentar o percurso até lá acima. No regresso já à tardinha era bem melhor porque a descer andávamos mais depressa e havia a oportunidade de fazermos as lutas das bolas de neve que nos deixavam molhados dos pés à cabeça. Chegando a casa tiravam-se os casacos e junto da bela lareira e depressa ficávamos quentinhos. De todos os anos, de todos os dias que fizemos este percurso ficaram marcas memoráveis…que despertam a saudade. E só se lamenta que dos jovens que vivenciaram todos estes momentos apenas restem três ou quatro que, eventualmente, poderão ler esta crónica…
Hoje já nem há neve por estas bandas e a chuva é pouca. A modernidade no casario está a esticar-se pelo percurso clássico da via, a qual deveria ser melhor compreendida na sua história. A água das valetas já não segue para o aqueduto. A mina no pinhal à borda da estrada, que nunca perdia a água e matava a sede a quem subia para a vila, terá sido arrasada? Logo a seguir a célebre “Quinta da Mónica” evaporou-se e a “ modernidade,” tão simples quanto feia, já lhe está a ocupar o sítio. Também já não há a fila de abrunheiros nas bandas laterais, cujos frutos doces como mel eram a primeira merenda antes de chegarmos a casa e, quando ainda verdes, serviam de balas nas lutas entre a rapaziada. Nos pinheiros mansos, que se estendiam pelo lado poente, as pinhas eram inúmeras, com o calor abriam e mostravam os pinhões iguaria muito apetecível para a malta no feminino que os apanhava por entre as ervas secas, enquanto os rapazes subiam aos pinheiros atirando com as pinhas recheadas para o chão. Tudo são as memórias que enobrecem este percurso e vão aos poucos desaparecendo fruto do progresso. Por tudo isto não deixamos de lastimar que neste país, os testemunhos históricos, mesmo os mais modestos, sejam tantas vezes destruídos para servir os interesses materiais de uns tantos cidadãos. Mas ainda temos esperança que esta ESTRADA DE PARALELOS volte à sua dignidade. A sua recuperação é imprescindível como testemunho duma época que, embora vivida com sacrifícios em consequência da segunda Guerra Mundial, deixou em quem a calcorreou as saudades dum tempo irrepetível.