TEMPO SECO

A Maldição da Velhice
No século I a.C., Cícero escreveu: “Os homens são como os vinhos: a idade avinagra os maus e refina os bons”. A velhice era uma raridade no tempo e na sociedade em que Cícero viveu, onde muito poucos passavam para lá dos 60 anos, e os que chegavam a essa idade eram seres excecionalmente privilegiados, pela sua sabedoria com que o tempo os contemplava.
Os tempos mudam e os conceitos também. As democracias derrotaram a velhice. A sociedades modernas, ou o denominado mundo livre, despreza a idade, considerando-a um grande empecilho. O quotidiano atual já não necessita dela, para isso já possui os computadores, que a substituem com todas as vantagens de acomodação e dispensa de afeto.
Em vez de se promover a felicidade e o bem estar dos idosos, escondem-se cada vez mais, isolando-os em locais sinistros e a que hipocritamente denominamos de lares, como se eles ignorassem, que os únicos lares que tiverem, não fossem os locais onde nasceram ou onde conceberam a suas próprias famílias e a suas descendências.
Fala-se hoje, em retirar-lhes, ainda mais, os seus direitos: privando-os de conduzir as suas viaturas, ou condicionar esse direito, à obrigatoriedade de colocarem um sinal de perigo ou um dístico de limitação de velocidade, nas suas viaturas. É uma medida injusta e uma provocação à sua própria dignidade.
Numa população envelhecida, como a nossa, os maiores de 65 anos representam, hoje, 24% da nossa população. Se todos votassem no mesmo partido político, teriam uma maioria capaz de formar governo, e acredito que com gente muito capaz, de levar por diante os destinos deste país, com muito mais eficácia e honestidade, que a cambada de incompetentes e pouco recomendável, que nas últimas décadas tomou de assalto esta pátria amargurada.
Se a medida, ora veiculada, pretende reduzir a sinistralidade, que se penalizem os infratores: Os aceleras, os alcoólicos, os distraídos e outros transgressores do código da estrada, onde decerto, se irão encontrar muitos dos atuais gestores, da nossa infelicidade civil, e não toda uma faixa etária, só porque esta teve o condão de alcançar a idade da sua proeminência.
Este é na realidade o “mundo cão”, onde os animais, hoje, já tem mais direitos e regalias, que os nossos progenitores. Não sei para onde caminhamos, tenho porém a certeza: de que não vamos na direção certa, não tão pouco a mais tangível!…