lendas, historietas e vivências

A ESTRADA DE PARALELOS
Começava e acabava no Largo da Estação. Parece um contra senso, mas na verdade ela passou a existir pela necessidade de servir na partida e na chegada dos comboios em finais do séc XIX. Como já referi anteriormente o seu traçado terminava na vila de Mangualde, quando encontrava as ruas de piso semelhante. Embora o centro do burgo fosse ainda relativamente pequeno estava apetrechado com Repartições, Tribunal, Bancos, Correios. Nada mau para os habitantes do concelho e não só… Como a vila se situava num planalto, para o traçado da linha férrea foram sendo escolhidas, tanto quando possível, as meias encostas, já que desde Vilar Formoso até à Pampilhosa do Botão o terreno era bem bravio de penedias. O lugar da Gare da Estação foi implantado entre barrocal e área de matos e pinhais. A cerca de 1km havia a pequena aldeia de Cubos à qual se chegava por carreiros e só mais tarde se foram criando outros fracos acessos para a passagem de carros e carroças de tração animal. Assim, o único percurso desde a Estação que nos levaria mais de três quilómetros de subida até à vila seria a linda e recente estrada. Em 1913 já se pensava num transporte regular e relativamente cómodo criando carreiras de diligências que transportassem passageiros e alguma mercadoria para Vila Nova de Tazem, Gouveia e também Viseu. À medida que o tempo ia passando os utilizadores do comboio davam-se conta da necessidade que mais transportes complementares lhes facilitassem a vida nas suas viagens de lazer e de negócios. Por tudo isto, viajar de comboio tornava-se cada vez mais exigente em relação à comodidade e à rapidez – o Rápido, o Correio, o de Mercadorias - mais tarde o Sud que fazia o percurso internacional. Era bem evidente que a movimentação de passageiros na Gare quando chegavam ou partiam criavam uma dinâmica muito própria e entusiasmante para a precária população. O largo foi calcetado e por ali já estacionavam os diversos meios de transporte - as já referidas diligências de tração animal. A outra população, o chamado “pessoal” deslocava-se a pé. Os habitantes próximos começaram a ver hipóteses de criar negócio instalando algumas lojas de comércio ao longo do percurso. As diversas actividades existentes na Vila, desde armazéns com comércio de tecidos, oficinas de várias especialidades, armazéns de produtos para tratamento dos campos e outras, acabaram por chamar ao seu meio os primeiros automóveis de aluguer, ditos táxis, as caminhetas dos Bernardinos de Castendo (hoje Penalva do Castelo) e outros de carga para servir no transporte de produtos mais pesados. Lembramos as pequenas mas divertidas viagens que como alunos dos Colégios tínhamos a sorte de poder fazer nas Caminhetas desde a Estação até ao Largo do Rossio ultrapassando muito frio, chuva e neve… As memórias que nunca se gastam e partirão connosco.