O 10 de Junho – Dia de Camões


No seu discurso na cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu no Peso da Régua, Marcelo Rebelo de Sousa pegou na vocação universalista do país e na luta da região do Douro para se projetar e aproveitou para deixar alguns recados, numa altura em que a política portuguesa continua envolvida na polémica em torno do incidente no Ministério das Infraestruturas e no envolvimento do SIS na recuperação de um computador de um adjunto do ministro João Galamba.
O Presidente da República considerou ser necessário “cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda”, advertindo que, só se não se quiser, é que “Portugal não será eterno”. Eu acrescento que há muito que a “árvore” se encontra contaminada e urge mudar o “podador” sob o risco de não haver solução possível. Não deixa de ser lamentável andar sempre com este tipo de discurso de que é necessário mudar mas nada muda.
Há 11 anos, António Sampaio da Nóvoa foi Presidente das Comemorações do Dia de Portugal. No seu discurso afirmou que existem muitos “portugais” invisíveis no país. Muitos dos problemas que detetou em 2012 mantém-se, afirmou recentemente, lamentando que António Costa tenha perdido a oportunidade de se tornar no “grande estadista do Portugal democrático” para se limitar a ser “um chefe partidário”. Não se arrepende de ter apoiado o PS nas últimas legislativas mas sente-se “desiludido” com a incapacidade política deste governo para lidar, por exemplo, com a turbulência na educação, na saúde e na justiça.
António Sampaio não é o único socialista desiludido com a maioria absoluta de António Costa. Veja-se o que se passou na última Comissão Nacional do PS. Muito têm sido os que vão mostrando o seu descontentamento com o governo de António Costa, mesmo dentro do PS!
Estamos saudosistas de tempos idos, tempos em que os Portugueses eram o farol do mundo, tempos que o orgulho nos guiava, tempos em que Portugal dava nos mundos ao mundo, tempos em que havia governantes que eram verdadeiros estadistas e que tinham noção do sentido de estado. Mas a saudade não chega se não for acompanhada de ação, não sairemos do mesmo sítio, que é a cauda da Europa. Nestes dias, os políticos de Lisboa, adoram vir à província distribuir beijos e dar abraços, mas acabada a festa, retornam à capital e rapidamente se esquecem do resto do país que é o que temos de melhor em Portugal e que, na correria do dia-a-dia, nem valorizamos devidamente. Olhamos pouco para dentro, para nós próprios, para a nossa essência enquanto povo.
Por vezes sinto, como escreveu Fernando Pessoa no poema Mar Português da obra Mensagem, que falta mesmo cumprir-se Portugal!

“Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.”

No dia em que celebramos a língua portuguesa, “Só Camões valeria uma Literatura inteira”, disse o romântico alemão Friedrich Schlegel…
Viva, então, Camões, Portugal e as Comunidades Portuguesas, muito embora a “vil tristeza” que paira nesta pátria, por vezes tão ingrata!