lendas, historietas e vivências

A ESTAÇÃO DA CP
Era, para lá da sua utilidade, um centro de interesse para a juventude do bairro. Ao tempo era grande o grupo que se estendia da meninice aos crescidos de dezoito anos. Seriam cerca de quarenta distribuídos pelas primeiras dezassete famílias que tinham construído a sua habitação ao longo da Estrada de Paralelos. Aonde pouco havia que fazer era natural que o entretenimento de maior interesse para a maioria dos jovens fosse mesmo a chegada e partida dos comboios na Gare, sobretudo do Correio e o Rápido, porque eram os que traziam passageiros e passageiras mais interessantes na apreciação dos jovens. Os funcionários da Estação bem nos conheciam, não porque tivéssemos atitudes menos próprias, mas porque eramos alegres e vivos. Não precisávamos de tinta para fazer grafitis nas paredes alvas das casas, nem partíamos vidros de portas ou janelas. Eramos vivaços, mas educados porque o conceito de educação e respeito pelos outros era levado á letra e se assim não fosse, lá poderia vir a “nalgada”, hoje, para bem da dignidade, desconhecida pela juventude que queima e espatifa carros de qualquer cidadão, sem culpa… Dos funcionários da Estação ficaram-nos boas recordações. Todos nos conheciam e nós gostávamos deles. Contudo tenho de aproveitar este correr da pena de recordações, para render uma muito merecida homenagem a uma figura que por algumas décadas fez só Amigos – O SENHOR QUINZINHO - natural da Cunha Baixa. Um senhor altamente educado e sempre atento a qualquer problema que pudesse ocorrer com um utente ou passageiro na Estação. O SENHOR QUINZINHO era uma figura simpática sempre sorridente metido na sua farda azul de ganga. Andava sempre apressado de um lado para o outro na gare, a resolver problemas dos passageiros que chegavam carregados de malas que ele transportava num carreto de grades até ao lugar no exterior ou já para junto do comboio estacionado por minutos na plataforma. Quantas foram as vezes que ele me pegou na mala e a colocou no interior da carruagem?! São memórias minhas, seriam talvez de muitas pessoas que, ao tempo, por aqui circularam e que como ele já partiram na viagem definitiva. É quase estranho pensar que ao tempo não havia por aqui entretenimentos que ocupassem os momentos livres da juventude, pelo que só a imaginação de crianças e adolescentes valia para ocupar os tempos “mortos”. Ir á Estação era como despertar dum sonho que se iria tornar realidade…” e daí, vamos até aos moinhos? Sim, os moinhos logo ali abaixo da Estação também revelavam muitos encantos e na cabeça dos jovens e miúdos montava-se uma arquitectura com tudo à mistura – riacho, poldras, moinhos, burrito carregado de sacos à espera da partida encosta cima, trambolhão que dava em feridas, roupas encharcadas, lágrimas a correr, chegada a casa …um sermão…