lendas, historietas e vivências

A recordar se vive uma segunda vida
Pois, na verdade, chegados a uma certa fase da vida as recordações aparecem por aqui em momentos de sossego e de reflexão. Algumas não são agradáveis… Para compensar, vêm à memória, enquanto se vai tendo, outras que nos dão imenso bem – estar, nos levam a parar no tempo por alguns minutos… e recuar à infância e à vida escolar primária em Cubos. A irrequietude, a ânsia da descoberta levava uma parte do grupo da Estação às digressões por todos os arredores, às decisões que muitas vezes não acabavam bem pelos arranhões com que decoravam o corpo, coroados pelo puxão de orelhas em casa… coitada da Mãe, que não tinha acalmia e tantas vezes dizia às Amigas… ”só tive sossego com estas crianças, durante o tempo do berço, assim que começaram a dar os primeiros passos acabou-se. Tinham uma imaginação e uma ânsia de conhecer que só podiam conduzir a acidentes e não foram poucos. A tentação do caminho - de - ferro com uma passagem de nível mesmo ali, a dois passos, era um susto para os adultos. E lá estavam os vizinhos mais próximos – os da padaria, da serração, das tabernas do senhor Germano e senhor Pimentel, onde se juntavam algumas pessoas em convívio, que estavam sempre alerta. Também, a “guarda – linha” que tinha a função de fechar as cancelas quando tinha o aviso da aproximação de um comboio, velava pela segurança das pessoas. É evidente que naqueles tempos a Gare e os comboios criavam a dinâmica das populações, sobretudo das que viviam na proximidade. A população do Bairro era muito pouca. Ao tempo o número de casas não chegava a trinta, e de filhos por casal ia de um a seis, por isso os jovens procuravam agrupar-se consoante os seus interesses e partiam à descoberta pelos arredores. O ribeiro do Castelo era sempre uma atração, as poldras que saltávamos uma a uma até à queda na larga poça de água que nos deixava encharcados. A caminhada que se fazia ao longo das margens do ribeiro numa extensão para lá de um quilómetro em direção ao talude do caminho-de- ferro que os mais afoitos procuravam escalar. Todas estas iniciativas levavam bastante tempo a finalizar pondo, por isso, em pânico os familiares que ignoravam os seus percursos. Como não havia os telemóveis, quando havia em casa uma funcionária de apoio à família lá ia ela procurar nos lugares que ela sabia serem os encantos da criançada…e quase tudo acabava em bem… coroado com uma estalada para ganharem juízo…