Israel e o Hamas

7 de Outubro de 2023

Já não chegava o que se passava na Ucrânia e um novo conflito armado rebenta entre o estado de Israel e o Hamas. As feridas abertas nesta região nunca estiveram devidamente saradas (nem se previam que viessem a estar tão cedo) mas o que se passou foi uma operação sem precedentes em que o Hamas conseguiu romper todas as barreiras e entrar no fortificadíssimo território de Israel numa operação militar de larga.
Os civis foram o primeiro e principal alvo do ódio. Outros, foram raptados e levados para Gaza, onde o que os espera será certamente a tortura e a morte. Israel foi apanhado desprevenido, o que pode ser explicável pelo facto do país estar envolvido numa forte crise interna devido à política de extrema-direita do governo Netanyahu. Hoje, é o próprio Estado de Israel que está em causa.
Este conflito não tem inocentes, nem de um lado nem de outro, mas a história da criação destes dois estados (Israel e a Palestina) prova-nos que esta zona do planeta dificilmente viverá em paz.
Mas quais são os maiores pontos de tensão entre estes dois estados? O conflito israelo-palestiniano teve início com a criação do Estado hebraico, em 1948, embora as tensões na região remontem ao século XIX, e é dos mais longos dos séculos XX e XXI. A 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas aprovam o Plano de Partilha da Palestina (Resolução 181), que prevê um Estado judeu e um Estado árabe e a administração internacional de Jerusalém, cidade sagrada para ambas as partes. O Estado de Israel é proclamado a 14 de maio de 1948, contudo os Estados árabes não o reconhecem e a partir daí os conflitos armados nunca mais terminaram. Para ambas as partes, há questões mais ou menos negociáveis, mas outras são de muito difícil resolução. Jerusalém é o maior problema.
Para Esther Mucznik, reconhecida escritora de ascendência judaica, “a moratória do Holocausto acabou, ou seja, o tempo em que as vozes anti-semitas não ousavam verbalizar aquilo em que nunca deixaram de acreditar. Esse tempo acabou.” Para o politólogo francês Gilles Kepel o ataque terrorista do Hamas contra Israel foi “o 11 de Setembro israelita.”
Uma coisa tenho a certeza, em qualquer país, isto seria uma tragédia mas em Israel é uma tragédia existencial. Uma ferida que põe em causa os seus fundamentos enquanto nação, atingindo a essência mais profunda do Estado israelita. Quase todos os países são acasos políticos ou geográficos. Israel, não. Foi criada com um propósito: garantir a segurança do povo judeu. É uma pátria artificial, inventada por decreto e sustentada nas cinzas do Holocausto, para que cada judeu pudesse ter um Estado, e, ao ter um Estado, não voltasse a ser conduzido como um cordeiro para o matadouro.