lendas, historietas e vivências

A CULTURA
DOS
“POBREZINHOS”

Eu coloquei pobrezinhos entre aspas porque na realidade não considero que existam lugares ou povos que não tenham uma CULTURA muito própria. De vez em quando detenho-me a reflectir sobre esta questão porque desde há largos tempos para cá, é uma expressão que está na ordem do dia quando há umas largas décadas, senão séculos, era um vocábulo só usado pelas pessoas eruditas. E entrou-me esta na cabeça motivada pela leitura de jornais. Desde que me conheço sempre me deu prazer fazer a leitura diária de um jornal que normalmente comprava, fruto de influências paternas. Isto poderá considerar-se um vício, já que não prescindo da leitura de um ou mais jornais diários e semanais preferindo comprá-los e lê-los no remanso do meu serão, do que cansar os olhos nas notícias que nos são transmitidas por vias electrónicas repetitivas e desgastantes. Então esta minha paixão pelas Beiras serranas, as chamadas raianas, pedregosas, não fáceis de lhes tratar as terras de modo produtivo, leva-me a semanalmente a adquirir o “Jornal do Fundão” que desde miúda me lembro ver nas mãos do meu Pai. Para lá das leituras de outros diários e semanários não há dúvida de que o meu deleite é absorver as notícias deste simpático jornal semanal da Cova da Beira e constatar que a chamada Raia e as suas populações não baixam os braços perante as agruras do clima e da sua posição geográfica afirmando-se, de ano para ano, como uma região de excelência. Não só nas produções agrícolas e industriais também fomentando com engenho actividades culturais – cada aldeia, cada cidade não descuram as vivências das suas tradições populares, como também das eruditas. Têm os seus cinemas, os teatros e museus com programas de excelente nível. O seu desígnio de terras do Interior, distantes de tudo o que era “civilização,” que ao longo dos séculos viveu quase num adormecimento nunca deixou afinal de se movimentar para sobreviver. Fosse de burro, cavalo, carroças e carros de bois faziam os seus percursos transportando os produtos que esforçadamente conseguiam pelo seu trabalho diário. Cá para o litoral, ou seja, na banda oeste da Serra da Estrela já a vida se processava de forma mais desimpedida de modo a criar riqueza. Eram os meios de transporte mais céleres e cómodos que possibilitavam outros contactos, outros negócios e outra Cultura. Estou a gostar de me passear pela Cultura da raia. Continuarei.