TEMPO SECO

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A Magia das Cinzas (III)
Para se alcançar uma solução prudente e racional, para os problemas que hoje assolam a nossa floresta, terá que se atentar, primeiro, numa ocupação compatível para o bando de parasitas que vivem à custa da sua destruição. Posto isto, e com parte dos recursos financeiros que são queimados todos os anos, no combate aos incêndios, está o caminho desbravado para implementar as mais variadas iniciativas de reorganização da floresta portuguesa.
Embora a legislação comunitária, obrigue cada estado membro a adoptar as medidas necessárias para o combate ao nemátodo (doença que ataca as coníferas com principal incidência no pinheiro bravo), Portugal não foi além da elaboração de uns quantos mapas com a localização, de maior incidência, da doença, quando ela já se propagou por todo o país. Protelar mais na sua erradicação, vai traduzir-se em graves prejuízos económicos e ambientais para todos nós a curto prazo.
A rentabilização da limpeza florestal é inadiável. O apoio à implantação de centrais e industrias de aproveitamento de resíduos florestais, é fundamental para o incentivo à remoção da biomassa que todos os anos se avoluma dentro e fora da floresta. A sua diversidade permite um sem fim de aproveitamentos energéticos, diretos e industrializados, assim como na produção de fertilizantes agrícolas.
Asseguradas a sustentabilidade da remoção da biomassa e a saúde da floresta, a abertura de novos acessos e a manutenção dos existentes, fica, também garantida. Aqui, um papel preponderante para as autarquias, que devem zelar por aquilo que até agora tem sido negligenciado. Porque não, em detrimento daquelas actividades de entretenimento, de pouca ou nenhuma utilidade, que nos últimos anos têm vindo a pulular por este país fora, custeadas pelo erário público? Um país em contenção financeira, com os salários mínimos e as pensões mais baixas, da comunidade económica e monetária em que está inserido, não se pode dar ao luxo de esbanjar dinheiros, em eventos acessórios e sem imaginação. Esta é a luta com a qual todos devem estar comprometidos, nas mais variadas frentes que ela comporta.
Com a diminuição do risco de incêndio, é preponderante a tendência para a área da floresta aumentar substancialmente, em quantidade e qualidade. incremento, das espécies existentes ou a introdução de espécies novas, ou rejeitadas, há longo tempo, da nossa floresta, deve obedecer a critérios de adaptação às condicionantes resultantes: da composição dos solos, das condições climatéricos e da localização geográfica; bem como da sua rentabilidade. Não haja ilusões!... A floresta só vingará, se dela resultarem dividendos, para quem com ela trabalha.
Já nesta rúbrica a designei de: “o nosso único petróleo”. Contudo, ela é bem mais que isso. Ela será, cada vez mais, a nossa autonomia energética, o possível aumento do nosso rendimento per capita, a recuperação da nosso pequeno ecossistema e, consequentemente, a nossa contribuição para a melhoria global das condições climatéricas e ambientais. Indo mais longe: é o único e fiável, grande, projeto com futuro assegurado em Portugal. Não sei, é se haverá vontade e idoneidade para levá-lo por diante. Embora tarde, está na hora de acordarmos desta vergonhosa apatia nos caracteriza e na qual nos acomodamos há demasiado tempo.
Novembro de 2016