VINHO É UMA BEBIDA ANTIQUÍSSIMA

juiz
Considerando que estamos no tempo em que os agricultores de todo o País estiveram ocupados na tarefa das vindimas não resisto a escrever sobre o vinho e a sua antiguidade.
Costuma dizer-se que o bom vinho melhora com a idade. Mas não é disso que agora nos iremos ocupar, mas antes da sua origem que se perde na noite dos séculos.
As mais antigas vinhas do Mundo datam da Idade da Pedra (7.000 a 5.000 anos a. C.) e situar-se-iam na Geórgia, na região do Cáucaso. Acredita-se que os vinhos tenham surgido também nessa época, embora certos instrumentos necessários à vinificação, como sejam a prensa e outros equipamentos só tenham sido encontrados na Arménia por volta de 4.000 a. C.
A epopeia de Gilgamesh, ou Gilgamech - que teria sido o 5º rei da primeira dinastia de Uruk (antiga cidade que se situava a 270 Km ao sul da cidade de Bagdade) - datada aproximadamente de 2.750 a. C., composta de 12 cantos com cerca de 300 versos cada um, refere diversas lendas e é provavelmente o mais antigo texto literário escrito pelo homem. Este texto foi redigido em sumério, com carateres cuneiformes. A epopeia de Gilgamesh foi encontrada numas ruínas na Mesopotâmia, preservada em placas de argila, por volta do ano 1890, altura em que foi decifrada. Em uma das lendas Giglamesh enfrenta e vence Aga, rei de Kish, consolidando a independência de Uruk. A tábua 10 contém um trecho que refere a fabricação do vinho.
O primeiro livro da Bíblia, o Génesis, conta que Noé se tornou lavrador e procedeu à plantação de vinhas.
O Talmude, livro sagrado dos Judeus, faz também referência ao vinho.
Voltando à literatura, não podemos deixar de citar Homero, famoso poeta grego que viveu por volta do séc. VIII a. C. Nas suas narrativas também alude à produção e consumo de vinho na época. Fá-lo não só a respeito da Guerra de Tróia, como também na Odisseia.
Na Ilíade, Homero fala dos vinhos da Ilha de Lemnos, no mar Egeu, como sendo a fornecedora das tropas sitiantes, sendo o vinho proveniente da Frígia. Este néctar ter-se-ia tornado fundamental para os soldados que passaram muitas noites em volta das fogueiras, ao longo dos supostos dez anos que teria durado o sítio. Se o vinho faltasse, talvez não tivessem ânimo para suportar tão longa espera. Por isso, quando o vinho escasseava, gregos e troianos faziam vista grossa ao intercâmbio clandestino dos comerciantes, que tinha lugar durante a noite.
Na Odisseia, Homero também descreve os vinhos gregos ao narrar as viagens de Ulisses. Refere então o vinho de Maro, doce e de elevado grau alcoólico, ao qual era adicionada água na proporção de vinte vezes mais. Quando Ulisses teria sido aprisionado pelo ciclope Polifemo, na Costa da Sicília, só teria conseguido libertar-se oferecendo-lhe o vinho de Maro, sem água. Polifemo teria caído em sono profundo, o que teria permitido a Ulisses extrair-lhe o olho, segundo a mitologia.
Pinturas egípcias, que datam de épocas que se situam entre 3.000 e 1.000 anos a.C., contêm detalhes da produção do vinho. Tumbas dos faraós mostram a colheita da uva, a prensagem e a fermentação e até cenas em que o vinho era bebido em diferentes recipientes e situações.
Na tumba do faraó Tutankamon (1371 – 1352 a.C.) foram encontradas, em 1922, 36 ânforas de vinho, algumas das quais com inscrições da região de origem, safra, nome do comerciante e até referências à excelência da qualidade1.
Estrabão, filósofo estoico, historiador e geógrafo (64/63 a. C.) refere-se à cultura da vinha na região do Douro.
Como resulta do que acima foi relatado, o vinho era guardado em ânforas. A palavra ânfora, em grego, significa algo que pode ser transportado por duas pessoas. Trata-se de um vaso cerâmico, bojudo, de gargalo estreito e base pontiaguda, com duas asas simétricas para facilitar o transporte por duas pessoas, como se disse. Foi usado por gregos e romanos. Certos historiadores atribuem a sua invenção aos cananeus, povo que habitava a região do Médio Oriente. Serviu por largos séculos, até quase à Idade Média, para guardar líquidos e cereais.
Por curiosidade, lembraremos, a propósito, que a ânfora panatenaica (séc. V a. C.) de base estável e grande valor artístico era atribuída aos vencedores dos concursos de Panateneias, que eram festas atenienses. Note-se a semelhança com o atual prémio ganho pelos vencedores de alguns jogos.

1Cfr. A Saúde da Água ara o Vinho, Dr. Marcio Bontempo