EDITORIAL Nº 695 – 1/11/2016

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Caro Leitor,
Não se pode contrapor a natureza do Homem e, especificamente, a natureza de cada indíviduo. Temos todos vontades próprias, qualidades inegáveis e defeitos persistentes, inquebráveis, que nos acompanham sempre dada a força do hábito; Vão traçando o nosso carácter.
Recordo-me que há uns anos, a comunicação social foi às ruas de Lisboa para reportar como era passado o Natal dos sem-abrigo. Nessa ocasião, um deles foi reconhecido pelos seus familiares. Seguiu-se um reencontro familiar capaz de comover as pedras da calçada. A família deu-lhe então abrigo e acolheram-no em casa. Imagino que tenha sido uma celebração única. Deram-lhe os bens de primeira necessidade e condições suficientes para possibilitar a sua reintegração na sociedade. No entanto, apesar de finalmente ter as condições e oportunidade de o fazer, este homem voltou para as ruas. O espaço público era a sua casa porque não queria abdicar dos laços de amizade que criara com outros; viver sem celeiro, porque os passarinhos também o fazem e todos os dias vivem.
Situações como esta, relembra-nos forçosamente da nossa condição privilegiada num Mundo que, sendo de todos, é diferente para todos. Relembra-nos que existem muitas pessoas numa condição sem ter escolha, e muitas pessoas que tendo escolha se mantêm numa condição.
Quando confrontados com outras realidades, não podemos também deixar de nos admirar com a importância desnecessária que damos a insignificâncias. Devemos agendar tempo para admirar o que temos e agradecer as oportunidades e sortes que tivemos. Devemos encarar a vida como um copo meio cheio e não meio vazio porque há pessoas que só têm um copo vazio.

Um abraço amigo,