UMA QUESTÃO DE SAÚDE

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Maria
Entrou sorridente e feliz, há muito que ansiava por esta oportunidade de falar com a sua Médica de Família para lhe contar...
Nos últimos anos a rotina tinha-se apoderado do seu corpo e mente e quase se tinha tornado um autómato, escrava de uma lista diária de tarefas que em pouco se suavizavam nos fins-de-semana e férias. Pois claro que não havia um minuto para planear as suas refeições, nem para fazer um pouco de exercício físico. E por vezes o stress toldava-lhe a mente e era cigarro atrás de cigarro, aliás só isso lhe trazia um segundo de paz, um pouco de alívio e conforto. A certa altura, apercebia-se que ficava ainda mais irritada nas circunstâncias em que não podia fumar e chegava a interromper o seu trabalho vezes sem conta para fumar, chegava a acender o cigarro minutos após acordar e esquecer totalmente de tomar o pequeno-almoço. A tosse profunda e constante ressoava nos corredores do seu local de trabalho e acordava os seus filhos durante a noite. Ao subir a curta escadaria que dava acesso ao sótão, ficava ofegante e cansada. E só aumentava o stress, a pele enchia-se de rugas com o passar dos anos, os dentes tingiam de amarelo e apodreciam.
A Médica de Família não se cansava de lhe explicar que o tabaco aumenta o risco de cancro em todas as localizações do corpo, aumenta o risco de doença cardiovascular, provoca bronquite crónica... e ela já tinha até manifestações de algumas destas doenças, com apenas 45 anos de idade...
Um dia um Cardiologista avisou-a que as artérias do coração estavam a ficar entupidas.
Nessa noite o sono teimava em não vir. O coração batia acelerado, pensamentos rápidos invadiam-lhe a mente. Pensava em tudo o que ainda queria fazer na vida, pensava no que realmente importava para ela. Pensava nos seus filhos, adolescentes, com tantas exigências e necessidades, pensava no seu marido, companheiro e amigo, tantas vezes lhe pedira para deixar o tabaco... Pensava nos anos que a vida roubou ao seu convívio com o pai, falecido prematuramente por cancro na laringe, também ele grande fumador. Não sabia onde iria encontrar forças para isso, mas... tinha mesmo que o fazer...
No dia seguinte deixou de fumar.
Todos os dias continuava a sentir vontade de fumar e todos os dias decidia não o fazer.
Três meses depois, não tinha tosse e achou que seria capaz de iniciar um plano alimentar e de exercício. Sentia também aumento do rendimento no trabalho. Nos fins-de-semana, conseguia fazer longas caminhadas e jogar basketball com os filhos.
Os filhos reconheceram todo o esforço e dificuldades por que passou a mãe para vencer esta luta e levaram a mensagem para a escola que frequentavam. À custa disto nem eles nem alguns dos seus amigos quiseram nunca experimentar fumar o primeiro cigarro, apesar de toda a pressão social nesse sentido.
Agora as tensões estavam mais baixas, tinha até reduzido as doses dos medicamentos que tomava por indicação do seu Cardiologista.
Todos estavam orgulhosos dela, acima de tudo ela sentia-se muito melhor no seu próprio corpo, sentia-se mais feliz, mais bonita, mais saudável.
Esta jovem mãe deixou de fumar antes que uma doença debilitante ou fatal tomasse a decisão por ela. Não quer fazer o mesmo?