VISTAS DO TALEGRE

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Na Tradição do Natal - I
Noite da Fogueira
A neve cobre a Serra que mais perto está das Estrelas, o frio seco e cortante do ar, conduzido pelo vento, era atenuado pelo forte braseiro das lareiras a arder, e completamente afagado no aconchego do lar, na fartura da mesa, na doçura das estrelas, na compreensão dos homens, na unificação das famílias, na esperança da nova luz que brilha com intensidade por todo o universo, fazendo chegar o seu calor a todos os homens sem excepção, sejam eles ricos ou pobres.
De certa forma podemos afirmar, que o cristianismo, veio apagar e aglutinar as práticas rituais ancestrais, corrigindo-as, modificando-as e convertendo-as de toda a sua camada pagã.
E assim chega até aos nossos dias, a Fogueira do Natal, herdeira mitológica, do contentamento, pelo regresso do Sol, e com ele a chegada dos dias grandes.
Pelo Natal, diz o povo, os dias passam a ser maiores, – pelo Natal, salto de pardal, no dia vinte de Janeiro uma hora por inteiro, mas se bem souberes contar, hora e meia vais achar.
Em Cães de Cima, actual Santo Amaro de Azurara, revestia-se de relevo a Fogueira de Natal, que se fez sempre na Laiginha, (conversão da Rua do Bacorinho, com a Rua das Quatro Esquinas), vá-se lá saber porquê aquele sítio da tradição?
A carrada dos ressequidos cepos e dos troncos de pinheiros, tornava-se tarefa difícil para a junta de bois, não fosse a ajuda preciosa e forte dos rapazes do povo, a puxar nos lados do carro, deitando a mão ora à roda de um lado, ora do outro, até passarem a dificuldade dos lajedos dos caminhos carreteiros, dos lados da Fonte do Vale, ou das Ribeiras, do Alto dos Casais, da Cerca, do Penedo, do Monte do Lobo, dos Tojais, dos Salgueirais, das Carapinhas que tinham de vencer, até entrarem suados no Povo, onde eram descarregados.
Quando à noite, se dirigiam à Matriz para a missa do Galo, já o forte brasido se fazia sentir e alumiava o pequeno largo.
A noite maior do ano, que é mesmo que dizer a noite com mais tempo de escuridão, simbolizava ao mesmo tempo o devir da luz, que de agora em diante, ia madrugar mais cedo.
A vigia da longa noite, em volta da fogueira, era feita por alguns homens e todos os rapazes, as púcaras de barro negro, postas em redor do forte braseiro, depressa fazia aquentar a boa pinga Depois do vinho quente e adoçado, dentro do púcaro era beijada por todos, que numa roda-viva o faziam passar de mão em mão. Já de madrugada ao alvorecer, o café nunca faltava,
Porque a noite era longa e de festa e as pessoas de boas contas, fazia-se colecta, e tostão aqui, tostão ali, lá se juntava os quinze tostões precisos, para paga a conta do açúcar, e do café de cevada que tinha sido feita e, por sinal, até muito bem aviada, numa das vendas do Povo,
Nas pilheiras das casas, ardia um enorme cepo, que se tinha guardado, para o efeito na cabana do casal, era com as brasas que sobravam já carvão, da fogueira de Natal, que iam afugentar, o demónio, os mau olhados e outros males, em defumadouros com o alecrim e loureiro, benzido pelos Ramos.
A fogueira, na Laiginha, e na pilheira lá em casa, ia enchendo de calor, a noite boa e longa, a Santa noite de Natal na minha Aldeia...