CONSULTÓRIO

dr. raul
O vinho, amigo ou inimigo?
Ouve-se com frequência “que o vinho faz bem e é bom para o coração!”.
Mas, entre as supostas virtudes do vinho e os seus potenciais perigos para a saúde, para que lado pesa o prato da balança?
O vinho e os seus antioxidantes
Entre os pontos fortes desta tão apreciada bebida estão os polifenóis, substâncias antioxidantes que estão presentes, em quantidades apreciáveis, no vinho.
Numerosos foram os estudos que investigaram os seus efeitos potencialmente anti-inflamatórios e a sua possível acção protectora sobre o sistema cardiovascular.
De todos os álcoois, o vinho será o melhor?
Aí já não há tanto a certeza… Se alguns estudos chamam a atenção para os potenciais efeitos benéficos dos antioxidantes contidos no vinho, outros estudos tendem a relativizar este aspecto.
O verdadeiro trunfo do vinho, segundo alguns investigadores, reside, antes de mais, no seu teor em álcool.
Parece, com efeito, que a longevidade, seja qual for a causa, é ligeiramente superior no grupo dos fracos consumidores de bebidas alcoólicas face aos abstinentes completos. Em pequenas doses (um ou dois copos de vinho por dia), o álcool teria uma acção anti-inflamatória e exerceria um efeito favorável sobre a tensão arterial.
Boa nova para os consumidores de cerveja ou de álcoois mais fortes: o consumo moderado de outras bebidas alcoolizadas, que não o vinho, conduziria, também, a este efeito protector.
Apesar de tudo, o vinho e o álcool não são “alimentos” saudáveis…
É preciso lembrar que um consumo abusivo de bebidas alcoólicas inverte toda a questão... A partir de um certo limite, os efeitos nefastos do álcool começam a ganhar muito mais peso no prato da balança dos malefícios.
Os inconvenientes são bem conhecidos: aumento da tensão arterial, aumento do risco de doenças cardiovasculares e de lesões hepáticas (do fígado), aumento de peso consecutivo à quantidade elevada de calorias que o álcool contém.
Isto tudo sem falar do risco de dependência e dos acidentes (de trabalho ou rodoviários) ligados a uma diminuição da vigilância e do aumento de agressividade (doméstica e social).
Bebidas alcoólicas e cancro não fazem uma boa parceria
Em causa: a degradação que o etanol (o álcool do vinho) provoca sobre o fígado, que forma uma molécula que é um reconhecido cancerígeno.
Os cancros mais fortemente associados ao consumo elevado de álcool são:
Os cancros orofaríngeos (da boca, da faringe, da laringe e do esófago).
O cancro colo-rectal.
O cancro da mama.
Em todos estes casos o risco de cancro aumenta, de forma exponencial, quando o tabaco se associa ao álcool.
Vinho: em que quantidades?
Entre benefícios e perigos, como saber que quantidades de vinho consumir quando se querem maximizar os seus efeitos sobre a saúde?
Lembremos, em primeiro lugar, que nunca é aconselhado beber álcool. E que não é possível saber, exactamente, a dose adequada uma vez que não se conhecem todos os outros factores que influenciam a saúde de uma pessoa: não é calculável!
O que se pode afirmar é que, um copo por dia é benéfico para a longevidade, mas ingerir grandes quantidades de uma só vez (ao fim de semana, por exemplo) é nefasto para a saúde.
Também, a abstinência total se aconselha a todos os jovens com idade inferior a 16 anos e às mulheres grávidas.
Alguns estudos aconselham, ainda, que seria muito vantajoso respeitar, pelo menos uma vez por semana, um dia de abstinência total.
E aconselham, ainda, a não ultrapassar os seis copos de vinho por semana, sem nunca ultrapassar a quantidade de 2-3 copos de vinho de uma só vez.
E o “bom senso” popular também aconselha:
“Copos de bom vinho tinto,
Nunca serão mais que três!
Manda a regra, e eu não minto:
Beber um de cada vez!”

Fontes de informação: Aude Dion, jornalista de saúde
“Beber ou não beber, eis a questão”- Kloner RA et al – Circulation, 2008
E-mail: amaralmarques@gmail.com