serafim tavares
O motorista
Honra lhe seja feita em tempo de pandemia. Disseram que morreu.
O motorista é uma pessoa mais forte do que se pensa. Dorme pouco, passa frio, sol, chuva, fome, sede, sustos, alegrias e tristezas. Muitas vezes, não está presente para acompanhar os primeiros passos dos seus filhos, aniversários dos amigos e até da própria família. Não marca presença nas reuniões da escola dos seus filhos, pois passa todo o tempo na estrada. Vive muito distante da sua família. Seus filhos ou esposa quando adoecem nem assim podem contar com ele, na maior parte das vezes. O motorista vive de cabeça cheia, tem que ser muito forte psicologicamente, recebe insultos, chora e sabe que nunca será recompensado pelo seu esforço. O chefe, acha que ele não trabalha o suficiente, e é fraco, só vê as suas falhas. Os amigos, pensam que ele ficou arrogante. A esposa, pensa que ele tem amantes, pois passa pouco tempo em casa e cansado. Pela estrada, passa milhares de sustos com outros carros ou camiões que invadem a sua via, muitas vezes obrigando-o a sair fora da mesma para salvar vidas e, para que ninguém se preocupe, guarda tudo na sua alma. Quando sai para o trabalho nunca sabe se volta, isso faz parte do que é um motorista. Num acidente, com a morte do motorista e já com as autoridades no local, estes, pegam no telemóvel do mesmo para ligar à família e o GNR vê uma mensagem que diz o seguinte: “Pai - diz o filhote de 9 anos. Peguei no telemóvel da mãe para te escrever esta mensagem e te dar os parabéns. Estou ansioso que chegues a casa para veres o teu presente. A mãe disse que hoje vamos comemorar o teu aniversário e partir o bolo. Tu és o meu super herói. Um grande beijo, até logo”.
Assim é a vida de um motorista nunca sabe onde fica a sua vida. Não critique a vida do motorista, são muitos a criar a vida de seus filhos e alguns altamente qualificados.