REFLEXÕES

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PATRIMÓNIO CULTURAL (4)
CITÂNIA DA RAPOSEIRA
Depois da avaliação prévia, visual, da extensão dos vestígios romanos pelos terrenos da Citânia que por sua vez se enquadravam nas áreas das Quintas da Raposeira, Fonte do Púcaro e Campas às quais acrescentamos mais tarde a Quinta da Regateira, ficamos seguros da riqueza histórica daqueles lugares. E ficámos também preocupados quanto a uma pesquisa aprofundada num futuro que teria de ser próximo, sobretudo quando soubemos do projecto de abertura da Avenida que já citei atrás. Perante o conhecimento que agora possuíamos dos lugares mais sensíveis e a correrem perigo de destruição decidimos expor as nossas preocupações ao então Instituto Português do Património Cultural.
A primeira pesquisa no âmbito de prospecções prévias foi determinada pela aproximação dos trabalhos para a abertura da dita artéria. Perante o levantamento topográfico verificamos que o seu traçado estava a apontar para a destruição de um enorme penedo de eira onde se localizava um grupo de sepulturas escavadas na rocha, daí a designação Quinta das Campas porque era conhecida a área de diversos terrenos limítrofes. Aqui, já nada se poderia fazer a não ser tentar desviar o traçado da via. Solução impossível já que tudo estava determinado com expropriações. Então só poderíamos fazer sondagens em terrenos que se encontravam já delimitados na planta. E foi depois de algumas negociações com a Autarquia, ao tempo, e com os ainda proprietários das terras que foi possível efectuar algumas sondagens arqueológicas. Recordando estes tempos em que a compreensão e aceitação destas iniciativas pelos proprietários, pelos próprios poderes autárquicos e estatais não eram famosas, espanto-me como se consegue individualmente força para ultrapassar barreiras quando sabemos que a nossa luta e determinação é por um Bem que pertence a todos.
Com a Associação de Defesa do Património (ACAB) ainda periclitante o apoio desta era mais moral que material. E assim não havia equipa. Foi com um único jovem- Luís Filipe - ao tempo ainda estudante do ensino secundário que, assumindo eu as despesas, me propus abrir, segundo a planta, as primeiras sondagens num quintal que iria desaparecer sob a futura via. Foi uma verdadeira odisseia. Apenas quatro braços empunhando picaretas, enxadas, pás, vassouras…durante uma semana! Mas foi ali que encontramos os primeiros vestígios de algo que me aguçou o apetite – uma fossa larga onde teria sido depositada uma profusão de fragmentos de inúmeras telhas romanas. Ali nada mais havia, mas deixou-nos a certeza de que por perto algo particularmente importante estaria para descobrir. Depois deste achado na semana seguinte ainda continuamos pesquisas em sítios de terra branda para mais próximo do escadório. Trabalho inútil e estéril. Acabamos este período de trabalho limpando três ou quatro sepulturas as únicas que pela localização iriam ser poupadas à força das máquinas e da pólvora. Depois, os anos que se seguiram foram de grande azáfama nesta área. Lá iremos que há muito que contar
Julho 2020