Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão

aida correia
Há muito tempo, talvez demasiado tempo, que o Mosteiro de Fornos de Maceira Dão suplicava restauro. Classificado como Monumento Nacional (desde 2002), de elevado valor histórico, religioso e patrimonial, pela sua unicidade e arquitetura, eis chegado o tão esperado anúncio.
O Mosteiro de Fornos de Maceira Dão, localizado na povoação de Vila Garcia, freguesia de Fornos de Maceira Dão (uma das maiores e mais importantes freguesias do Concelho), município de Mangualde, fundado em 1161 passou pela Ordem de S. Bento e pela Ordem de Cister, até à sua transferência para Fornos de Maceira Dão em 1173. Erguido por D. Soeiro Teodoniz, protegido do rei D. Afonso Henriques, dotado de grandes coutos, o Mosteiro foi aumentando o seu património e valor pelas doações que os fieis iam realizando.
Da sua arquitetura em estilo maneirista e barroca, destaca-se a torre medieval do século XII, o edifício principal e os claustros do século XVII e a igreja elíptica do século XVIII.

Localizado em vale fértil, onde passa um ribeiro, com zona de cultivo em socalcos, característica da zona, foi transformado em quinta de produção vitivinícola. Considerando a atividade vitivinícola da Ordem cisterciense e a sua importância no desenvolvimentos de certas zonas demarcadas, como o Alto Douro Vinhateiro, é possível que a vinha já assumisse um papel preponderante na época.
Extinto em 1834, o tempo esvaziou-lhe o conteúdo, ornamentos e recheio. As suas edificações, servem hoje como armazém de produtos agrícolas e abrigo de animais.
Como nos permitimos apagar 800 anos de história?
É por isso com satisfação que acompanho o anúncio da recuperação do Mosteiro de Fornos de Maceira Dão.
Estão reunidos os interesses e em conjunto, a Autarquia de Mangualde, a família atual proprietária do imóvel e a Direção Regional de Cultura do Centro assinaram um protocolo que visa a recuperação da cobertura do edifício, no valor de meio milhão de euros, com comparticipação de 85%.
Que esta negociação não fique por aqui e que se valorize o turismo cultural, devolvendo a dignidade e dando um destino de excelência a tão ilustre monumento. Com esta recuperação parcial e futuramente com outros restauros feitos no seu interior, que este monumento possa atrair o interesse para a realização de eventos e outras atividades no domínio cultural.
Que os Vila Garciences se encham de orgulho e que possam dizer que têm o mais importante monumento do concelho.
E que este gesto sirva de exemplo a tantos outros valores da nossa história que deixamos perder aos poucos, às vezes por meras burocracias, outras por interesses políticos, pondo de parte a nossa cultura, tão valorizada por outros que gostavam de a ter e não têm.