Quando a esmola é grande o pobre desconfia!

aida correia
O interior foi sempre o parente pobre, distante e esquecido pelo centro de decisão. A desertificação é ínevitável. Mais de metade do território português (52%) corre esse risco.
Um interior esquecido vai de certeza conduzir a um “ Portugal vazio”. Fecham serviços, lojas, bancos e o mais grave é ficarem vazios os bancos das escolas, que representam o nosso futuro.
Este deserto tem a ver com a falta de habitação, de empregos e de oportunidades. E, porque todos têm direito a uma vida melhor, partem para as grandes cidades, muitas vezes com a família atras e nunca mais voltam...
Mas, as grandes cidades têm uma vida agitada. A sociedade moderna, vive, hoje, numa grande pressão, numa ansiedade que torna as pessoas infelizes. É uma sociedade que “mata aos poucos”! Aqueles que podem, reagem e começam a fugir dos grandes centros populacionais. Dão a «última volta» à chave na cidade e partem para a aventura, na esperança de um futuro melhor, pelo menos, mais feliz.
Procuram aldeias do interior, às vezes abandonadas, tesouros escondidos, lugares de tanta história, tradições, de vida simples e calma. Aldeias atravessadas muitas vezes por pequenos rios, de águas mansas, correndo entre granitos arredondados e enegrecidos pelo tempo. É o interior de «água doce» oposto ao mar e ao litoral.
O rio e a natureza coexistem por vezes situados em serras por onde se sobe e desce por caminhos pedregosos, estreitos e de mil curvas. Serras a perder de vista, um novo mar!
Tesouros muitas vezes encontrados pelos estrangeiros que aproveitam toda esta riqueza que está ao abandono. E nós, distraidos, permitimos.
Casas abandonadas pelos que abalaram, de granito a dar-lhes personalidade e à espera de voltarem a ter vida. É isso que é preciso fazer ! Reconstruí-las, habitá-las e criar vida e riqueza. É preciso regressar ao ponto de partida, às velhas memórias que nos ajudam a perceber o que somos hoje e podemos ser amanhã.
Fagilde, uma aldeia do concelho de Mangualde, como tantas outras, cumpre com todos os requisitos para ser uma terra de futuro. Atravessada pela A25, um nó importante, servida pela N16, perto de duas grandes cidades, uma Barragem. Um futuro turístico.
Em tempos foi criado um “Movimento para o Interior”, mas inconsequente. Abre-se agora uma nova esperança: o “Plano Costa e Silva” a defender “mudar o interior”.
E porque a “esmola” desta vez é grande, tem que chegar para todos. E o que dizem e fazem os autarcas do interior? Por enquanto quase nada!
Mas podem e devem dizer e fazer muito. Criar benefícios fiscais, incrementar financiamentos e apoio na organização dos projectos. Desta forma pode ser criada uma economia/riqueza local, com menos burocracias.
Está na altura de salvar o nosso interior!