REFLEXÕES

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Património cultural (9)
Citânia da raposeira
Após a campanha de 1986 ficámos com dados suficientemente importantes para propormos a continuação das pesquisas no verão de 1987 nesta altura já na posse do levantamento topográfico da área dos três terrenos no seu todo. Assim pudemos fazer no papel sobre a planta uma quadrícula alargada que cobria quase toda aquela área de terreno arável. Com a prévia autorização dos três donos das parcelas, (esta foi sempre uma preocupação a ultrapassar), poderíamos fazer as sondagens em vários locais relativamente espaçados as quais nos poderiam proporcionar outros vestígios de estruturas que tivessem relação entre si e também com as que anteriormente foram interpretados como termas romanas. As quadrículas de 4x4metros eram marcadas no terreno usando cordão e cavilhas deixando entre elas faixas de 1 m designadas por banquetes, destinadas à circulação das pessoas que trabalhavam nas escavações bem como carros de mão utilizados no transporte das terras daí resultantes. É evidente que tratando-se de um trabalho de investigação tinha de obedecer aos preceitos técnicos em todos os momentos – escavação por camadas cujas terras eram minuciosamente observadas pois seriam elas que deveriam albergar os materiais resultantes das ocupações e abandonos do sítio, ao longo dos tempos, provavelmente alguns séculos antes de Cristo. Era por isso que antes do início da campanha todos os escavadores tinham que ser preparados e informados dos processos e cuidados necessários à detecção de qualquer pequena peça que se encontrasse na terra - fragmentos de objectos de uso doméstico, do trabalho no campo, ou das oficinas de produção de artefactos utilitários. Também poderiam aparecer moedas ou mesmo contas, pedras de materiais de enfeite-colares pulseiras, etc, etc – um sem número de vestígios importantes para a interpretação e conhecimento do local. Era também fundamental que ao longo da campanha se registassem todos os aspectos que seriam úteis para a elaboração do Relatório no qual ficava documentado com minúcia tudo o que ia acontecendo e as informações que se obtinham ao longo da escavação. Eram necessárias imagens fotográficas e desenhos focando todas as situações importantes para a interpretação duma determinada área que se descobrira. Tinham que se desenhar os cortes e plantas dos quadrados, bem como algumas das peças porventura encontradas, in situ. Eram muitas as tarefas para lá da orientação do trabalho de campo, mas surgiam sempre jovens ou técnicos de arqueologia que felizmente se ocupavam de algumas delas. A elaboração do Relatório a cargo da equipa orientadora era sempre bastante complexa, englobando a interpretação e descrição de todas as situações, as fotografias, os desenhos de campo e de algum material recolhido mais significativo. Digamos que depois do desgaste de um mês a orientar os trabalhos de escavação, sob um sol inclemente, havia ainda o trabalho de gabinete onde tudo tinha de ser reunido, estudado, descrito e enviado às entidades competentes.