As cidades e as pandemias


Um dos aspetos mais evidentes da covid-19 é que ensombrou os maiores centros urbanos do mundo. O novo corona vírus transformou as cidades mundiais, esvaziando ruas que costumam estar apinhadas e limitando centros comerciais outrora cheios de gente.
As pessoas não saem de casa, outras, simplesmente fugiram para os subúrbios. Os profissionais trocaram os escritórios partilhados pelo portátil e pelo zoom.
Enquanto a energia das cidades mais deslumbrantes foi substituída por um silêncio assustador, muitos fizeram a pergunta: Será que as pessoas voltam? Quando regressamos à normalidade?
De acordo com Farred Zakaria, um conhecido jornalista da CNN e reputado escritor, tudo voltará à normalidade. O padrão a que assistimos é conhecido. Durante séculos, os habitantes das cidades abandonaram as casas em momentos difíceis, acabando sempre por voltar às grandes cidades. E quando regressam, reinventam as cidades. A seguir à pior praga da história da humanidade, várias cidades do norte de Itália, como florença, lançaram o Renascimento.
Ao longo da história as cidades sofreram fogos e inundações, enfrentaram doenças e guerras, mas, vezes e vezes sem conta, reconstruíram-se e para melhor, aumentando a riqueza, a segurança e com normas de sustentabilidade mais inovadoras.
No “The Atlantic”, Derek Thompson escreve que as catástrofes naturais e as causadas pelo homem moldaram as cidades do mundo ao longo da história. As epidemias implacáveis que atacaram as cidades inglesas na revolução industrial deram origem a novas ideias sobre o papel do estado em garantir a saúde pública, especialmente nos resíduos e na gestão da água.
O metro de Nova Iorque, conhecido em todo o mundo, sofreu uma grande renovação após o pior nevão dos estados unidos, no final do século XIX. Por volta da mesma altura, um incêndio dizimou quase 8km2 da cidade de Chicago em apenas 3 dias. Determinados a reerguer Chicago, os edifícios foram reconstruídos para serem mais altos e robustos.
Nestes contextos, a liderança é fundamental. As grandes cidades mundiais deviam ter estado mais preparadas para a catástrofe que está a ser esta pandemia. Nova Iorque e Londres erraram no início da Covid-19, apesar dos vastos recursos. As cidades terão de fazer mudanças a pensar em futuras ameaças à saúde pública.
As cidades são especialmente suscetíveis às pandemias, mas boas políticas públicas podem tornar a vida mais segura durante uma crise pandémica.
Precisaremos de inovação urbana, pois até 2050 as Nações Unidas estimam que mais 2/3 dos seres humanos viverão em cidades. Em 2018, um estudo da Brookings descobriu que as 300 maiores áreas metropolitanas do mundo produziram 2/3 de todo o crescimento do PIB a nível mundial!
As cidades sempre foram a continuarão a ser centros de inovação, ideias e diversidade. Afinal o relacionamento humano é essencial para tudo isto.
Parafraseando Fareed Zakaria no seu livro (Ten lessons for a post-pandemic world) “Os humanos criam cidades e as cidades criam humanos, são dois lados da mesma moeda. O motivo para as cidades crescerem e persistirem, mesmo ao enfrentar calamidades, é porque a maioria das pessoas é atraída naturalmente pela participação, colaboração e competição. A racionalização para viver na cidade varia: trabalho, amizade, entretenimento, cultura ou tudo isto junto. Mas, além desses motivos externos, reside uma grande necessidade de interação social. Esta pandemia não acabará com esta interligação. De facto, o isolamento dos confinamentos e do afastamento social poderá provocar o efeito contrário, recordando as pessoas de uma ideia simples mas profunda: por natureza somos animais sociais.”
Por isso, haja esperança que a ciência encontre uma solução para podermos voltar à normalidade.