RELEXÕES

PATRIMÓNIO CULTURAL (16)
CITÁNIA DA RAPOSEIRA
No texto anterior parei no espanto que a tentativa da definição do percurso da GRANDE CONDUTA que, supostamente, passaria sob o caminho rural tivesse dado em nada. Como a sondagem que fizemos ao longo do muro dentro do terreno dum novo proprietário que nos facilitou o acesso, não trouxe à luz qualquer vestígio, contrariando toda a lógica, rogámos-lhe que nos deixasse alargar a escavação para sul na direcção possível daquela estrutura que parecia ter-se evaporado. No terreno havia uma plantação antiga de inúmeras aveleiras que dificultavam a orientação da quadrícula fundamental. Era ponto assente que qualquer trabalho ali realizado não poderia prejudicar as árvores. E já foi bem valiosa esta compreensão dos donos que não impediu a continuação da pesquisa. Fazendo verdadeiras contorções conseguimos marcar o espaço onde poderíamos continuar os trabalhos. Àquele tempo, princípios da década de 90, não era fácil obtermos todos os apoios necessários. Era preciso vencer obstáculos a nível autárquico, dos Organismos Oficiais, da população. Só com muito diálogo e apresentação de elementos comprovativos da importância da descoberta dum bem histórico que poderia trazer mais - valias, tanto na promoção da região, como na área do Saber. O que se estava a descobrir desde 1986 poderia ser encarado como uma riqueza patrimonial sem preço material.
Sempre na tentativa de encontrar a abençoada conduta alargámos a escavação para sudoeste e não mais encontramos os seus vestígios, mas…surgiu um largo empedrado. Pela sua forma convexa levou- nos a pressentir que seria uma espécie de cobertura abobadada de algum vão construído naqueles tempos longínquos. Não foi possível, todavia aprofundar a pesquisa neste ponto. As limitações financeiras da campanha e de tempo não nos facilitou, pelo que tivemos de continuar o estudo à superfície. Porém, algo nos ficou na imaginação – aquele empedrado não seria a cobertura de um depósito profundo para reserva de água? Os romanos sabiam resolver problemas que pareciam irresolúveis. Será que a conduta do lado de lá que nos desapareceu junto ao caminho, não teria sido continuada com tubos ou canadas de madeira que com o passar dos séculos apodreceram, mas ao tempo conduziriam a água para esse depósito? Já nunca mais teremos a resposta a estas questões, porque não tínhamos o poder de decisão plena para continuar. O nosso trabalho e o esforço desgastante nem sempre foi compreendido e isso também nos roubava energias. A capacidade de luta precisa de estímulos exteriores e não ser só o fruto da nossa força interior- mental e psicológica. Qualquer um que observe monumentos, onde quer que seja a sua localização geográfica e a sua dimensão, não consegue avaliar o esforço brutal que alguém desenvolveu ao longo da sua descoberta. Os canais de televisão dedicados à investigação da História da Humanidade, tornam muito clara a enorme e difícil tarefa de qualquer investigador. Continuaremos.

Janeiro 2021