Luxos de outros tempos

Luxos de outros tempos
A colher de Torga
Diz-se que o garfo só chegou a Portugal em meados do Século XVIII. Ter um garfo era um luxo e as gentes mais modestas contentava-se com a colher. Forjado no ferro pelos mesmos artesões que produziam as alfaias agrícolas, só na segunda metade do século XX é que se generalizou.
O povo, usava a colher e para isso utilizava a Torga. A Torga, planta existente nas regiões pobres do centro do país, tem um crescimento lento, mas é facilmente moldável e trabalhada à mão. No entanto, rachava com facilidade, o que desaconselhava a sua utilização como colher.
O povo Português, sábio e desenrascado, encontrou a solução. Cozer a madeira de torga na panela da cozinha umas horas antes de ser trabalhada, garante-lhe uma resistência invulgar, mesmo em colheres bastante finas.

A tesoura das luvas
De algodão, renda, pelica, brancas, cinzentas, pretas e castanhas, eram exclusivas das mãos delicadas e dedos elegantes das senhoras ricas, que as combinavam com os seus vestidos chiques. Para o povo, de mão rudes e calejadas eram apenas uma peça de admiração.
Os seu dedos tão estreitos dificultavam a sua utilização e logo foi inventada uma tesoura de madeira que as ajudava a alargar. No entanto, uma vez calçadas, retirá-las continuava a ser uma tarefa difícil e demorada. Por isso, manda a etiqueta que as senhoras, ao contrário dos homens, não deviam descalçar as luvas para cumprimentar quem quer que fosse, ficando assim resolvida esta enorme dificuldade.

As cuecas
Desprezadas por ricos e pobres, durante séculos ninguém as usou. Para os pobres não tinham qualquer utilidade e para os ricos iam contra as regras da igreja, sendo mesmo proibidas, uma vez que eram associadas às prostitutas parisienses dos finais do seculo XVIII. Senhoras honradas, dignas e mães de família “passavam” o uso de cuecas, por ser altamente impróprio. No entanto, senhoras mais abastadas, durante o inverno para proteção do frio eram autorizadas a usar cuecas, mas com aberturas diversas, para satisfazer todo o tipo de necessidades fisiológicas.

O lenço
Também o lenço teve na sua história múltiplas funções, mas nenhuma associada, imagine-se, a assoar o nariz.
As pessoas de condição social e comportamento requintado não se assoavam em público, porque o ruído caraterístico era tido como de muito mau gosto.
O lenço serviu, ao longo dos tempos e das modas para: acenar em sinal de satisfação, proteger o rosto do sol ou a garganta contra constipações, limpar as lágrimas e também como guardanapo. As senhoras francesas usavam um lenço de mão, que deixavam cair ao chão quando queriam demonstrar o interesse por um homem, que o devia apanhar de imediato.
Em Portugal, essencialmente no norte do pais, era costume as moças oferecerem um lenço ao namorado. Mas a verdadeira utilização do lenço pelas gentes portuguesas, era para limpar o suor, ou proteger a cabeça do sol e ainda como bolsa para guardar valores, deixando a função de assoar o nariz para a mão.