BIBLIOTECA MUNICIPAL DE MANGUALDE

RENASCIMENTO - A abertura da Biblioteca Municipal de Mangualde em 1997 constituiu uma mais-valia para o Concelho.
Como foi o acolhimento pelo público interessado?
Mª JOÃO FONSECA - A Biblioteca Municipal de Mangualde nasceu da vontade da autarquia em participar na promoção de uma política de desenvolvimento da leitura, lançada em 1986 a nível nacional, através da integração da Biblioteca na Rede Nacional de Leitura Pública. O projeto da Biblioteca Municipal resultou assim de um Protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Mangualde e o extinto IPLL (Instituto Português do Livro e da Leitura), assentando numa partilha de responsabilidades entre a administração central e a administração local.
Quando me candidatei ao lugar de Bibliotecária em 1995, o edifício estava construído e cumpria as diretrizes emanadas pelo IPLL para a instalação da nossa Biblioteca Municipal. Os dois anos anteriores à sua abertura foram destinados ao estudo, planeamento e implementação dos serviços, bem como à elaboração de cadernos de encargos e concursos para a aquisição de todo o equipamento, desde mobiliário, livros, equipamentos audiovisuais, e contratação de técnicos com formação especifica na área. Da parte da autarquia encontrei um enorme entusiasmo e cuidado no cumprimento das diretrizes e dos prazos a cumprir. Por todos era manifestada uma grande curiosidade sobre o funcionamento da nova Biblioteca Municipal. A expectativa era elevada, até porque Mangualde não possuía Biblioteca e o Cineteatro tinha encerrado. A cidade precisava de um novo espaço de cultura.
A Biblioteca inaugurou no dia 22 de novembro de 1997 com a presença do Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho e demais entidades do IPLL, bem como dos responsáveis locais. Naquele dia a Biblioteca encheu-se de pessoas pela primeira vez, e estas percorreram as salas de leitura e restantes espaços com uma enorme curiosidade e brilho nos olhos. Foi o início de uma nova fase. O edifício era novo e a conceção dos espaços e serviços ofereciam a Mangualde as novidades que caracterizavam as modernas Bibliotecas de então: o livre acesso aos livros, o empréstimo domiciliário, a existência de diversos suportes, como era o caso do audiovisual, e ainda, zonas de descontração e um auditório para realização de eventos.
Desde o primeiro dia sentimos o interesse por parte da comunidade neste novo serviço. No dia a seguir à inauguração, começamos a receber o público. Os primeiros anos foram de grande intensidade nomeadamente ao nível da utilização por parte das crianças do 1º ciclo e pré-escolar das escolas de todo o concelho. Não existiam ainda as Bibliotecas Escolares e os jovens dos vários ciclos de ensino recorriam muito à Biblioteca Municipal para pedir ajuda nas pesquisas documentais e orientação nos trabalhos. A sala de audiovisuais onde podiam ouvir música, ver filmes e, posteriormente usar computadores, estava sempre repleta, ao ponto de fazerem fila para entrar.
Apesar da falta de hábitos quer de leitura quer culturais por parte do público adulto, a receção ao novo serviço foi muito boa e a comunidade foi-se aproximando da Biblioteca à medida que se foi apercebendo da sua potencialidade.
Ao longo destes, quase, 25 anos a Biblioteca tem procurado ajustar-se às mudanças da sociedade, reinventando-se, para ir ao encontro da comunidade. Ela é um polo dinamizador da cultura em Mangualde e a comunidade sabe que pode contar com ela para as mais diversas iniciativas. É uma casa de todos e para todos.

RENASCIMENTO - Que atividades desenvolve a Biblioteca?
Mª JOÃO FONSECA- A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os géneros. Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. (UNESCO, 1994).

Tem sido com base nestes princípios da UNESCO que a Biblioteca tem desenvolvido toda a sua ação, promovendo a educação, a informação, a cultura e o lazer, através de diversas atividades e tendo sempre como base o livro e a leitura.
Para além das atividades internas de organização, tratamento documental e difusão da informação, a Biblioteca faz acompanhamento do leitor, facilitando-lhe o acesso à informação, promovendo o uso do catálogo online, o serviço de informação e de referência e o acesso à Internet. A este nível, pontualmente, e também por solicitação do público, são dinamizadas breves formações com o objetivo de complementar ou desenvolver conhecimentos e/ou competências nos utilizadores.
Das atividades mais significativas da Biblioteca Municipal temos as da área da promoção da leitura. Desenvolvidas desde o início da sua abertura ao público, elas pretendem promover a leitura numa perspetiva lúdica, embora sejam muitas vezes um complemento à aprendizagem escolar. Algumas destas atividades realizam-se com regularidade, como é o caso das sessões de leitura e ateliers temáticos, dirigidas maioritariamente às crianças de pré-escolar e 1º ciclo e também a idosos. Outras, decorrem no âmbito de projetos continuados como o “Livro sobre Rodas” ou “Biblioteca para avós”, entre outros. São ainda desenvolvidas atividades temáticas e sazonais que se enquadram em determinados contextos, como por exemplo as “atividades de tempos livres” dinamizadas para crianças e jovens nos períodos de férias que envolvem a leitura, o cinema e jogos, ou atividades em volta de uma temática ou de momentos comemorativos, como “Dormir com Livros” ou “Leituras Enfeitiçadas”. Estas últimas decorrem anualmente, uma por volta do Dia Mundial do Livro (23 de abril) e outra a propósito do Halloween (31 de outubro) e têm tido grande impacto junto do público-alvo (crianças e pais). Para além das citadas, a Biblioteca já dinamizou muitas outras, como o Clube de Leitura (um para crianças outro para adultos), e iniciativas em parceria com as escolas e com a comunidade, como o comércio local, pastelarias, a rádio, etc. Ao longo dos anos fomos adaptando as atividades à realidade e às exigências sentidas.
Neste âmbito, temos que considerar ainda as atividades culturais para o público em geral, como exposições, peças de teatro, cinema, concertos, encontros com escritores, conferências e seminários, que são uma evidência de uma oferta diversificada.
Nos últimos anos a Biblioteca Municipal tem assumido a organização das atividades e projetos culturais do Pelouro da Cultura da autarquia permitindo-lhe dinamizar eventos como o “Em Quarto Crescente” ou as “Sextas da Lua”, marcas da atual política cultural do Município. Tem ainda promovido o desenvolvimento de projetos interconcelhios como “Alto Mondego Rede Cultural” que permitiu espetáculos belíssimos como “Mundos Cruzados” ou “A Volta” e, o mais recente, “Cultura no Dão”.
Também foi com a ação direta da Biblioteca Municipal que nasceu a Orquestra POEMa, que desde 2013 tem vindo a promover a música no concelho, reunindo jovens do Agrupamento de Escolas de Mangualde e das Bandas Filarmónicas do concelho, com professores qualificados do Conservatório de Música Azeredo Perdigão de Viseu. Estamos também a acompanhar o projeto de Formação Especializada do Ensino da Música no 1º Ciclo, que considero uma mais-valia para o sucesso escolar das crianças de Mangualde.

RENASCIMENTO - Que perspetivas se apresentam para o futuro?
Mª JOÃO FONSECA - Estamos de novo a reinventar-nos. Antes da pandemia as salas de leitura da nossa Biblioteca estavam ocupadas com estudantes do Ensino Secundário e universitários, que se habituaram a usar a Biblioteca para estudar, e para estar com os amigos. Os mais jovens corriam para os computadores para mais uns minutos de jogo. Os pais, no final da tarde ajudavam os filhos com os trabalhos de casa, e até os explicadores usavam a Biblioteca para acompanhar os seus explicandos. O mesmo acontecia com alguns leitores assíduos que diariamente vinham ler as publicações periódicas que oferecemos, ou requisitar livros através do empréstimo domiciliário.
O espaço, as boas condições climáticas, o bom acesso à internet, e a nossa simpatia (modéstia à parte), foram fundamentais para garantir o conforto e o gosto de usar a Biblioteca.
A pandemia veio abalar estas rotinas. Estamos a retomar os serviços presenciais com as limitações que a DGS nos impõe, salvaguardando a saúde de todos. Estamos num período de transição, mas penso que nada voltará a ser igual.
A missão da Biblioteca continuará a mesma, abrangendo a educação, formação, informação e cultura, e passará sempre pela promoção do acesso à informação e a bens culturais por todos, sem qualquer discriminação. Será sempre um espaço de democratização da cultura e de igualdade. Contudo, creio que o futuro passará cada vez mais pela oferta digital, como já começou a acontecer, e pela capacidade que temos que ter em criar novos serviços para a comunidade; serviços atrativos e modernos que estimulem o uso da Biblioteca. Teremos que antecipar as necessidades, continuar a ser pro-ativos e fazer sentir à comunidade que a Biblioteca está pronta a servi-la.
A Biblioteca tem de ser sentida como indispensável à população, onde as manifestações culturais continuem a acontecer. Um local de encontro e onde possamos encontrar respostas…

RENASCIMENTO - Que ligações tem com as outras Bibliotecas?
Mª JOÃO FONSECA - A Biblioteca Municipal sempre teve bom relacionamento com as todas as Bibliotecas da proximidade. Desde logo, com as Biblioteca Escolares do Agrupamento de Escolas de Mangualde, com as quais conta para diversas iniciativas, e com as quais colabora a diversos níveis. Não faria sentido de outra forma, uma vez que existem grandes objetivos comuns para a mesma comunidade. Ao longo destes anos têm sido desenvolvidas muitas iniciativas em parceria.
No que diz respeito às Bibliotecas Públicas de outros Municípios, logo nos primeiros anos de existência promovemos um projeto de partilha de contos com outras 10 bibliotecas da região. Cada uma das 11 bibliotecas visitava as restantes para apresentar o seu conto. Foi uma experiência muito interessante que estreitou laços de trabalho que perduraram. Além desse projeto tem havido troca de atividades e ajuda entre os profissionais da área.
Apesar desta proximidade, só muito recentemente foi constituída a Rede Intermunicipal de Bibliotecas de Viseu Dão Lafões. O Protocolo foi assinado em outubro de 2020, entre a Comunidade Intermunicipal (CIM), a Direção Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e os 14 Municípios que integram a Comunidade intermunicipal de Viseu Dão Lafões. O objetivo da RIBVDL é trabalhar em conjunto no desenvolvimento de serviços, numa lógica de otimização de recursos. Pretendemos criar uma oferta de serviços partilhados na Comunidade Intermunicipal, contribuindo para a prestação de um serviço de biblioteca pública de qualidade, promotor da identidade regional, com vista à promoção e desenvolvimento das literacias, incluindo a digital, junto da população do seu território.