Telemedicina, uma realidade forçada!


Viver em Lisboa, Porto ou Coimbra confere um beneficio que qualquer habitante em outra região reconhece: acesso a cuidados médicos especializados. A diferente distribuição de cuidados médicos especializados em Portugal é de tal forma evidente, que há 20 anos atrás implementou-se um grupo de trabalho - hoje em dia com os estrangeirismos isto seria traduzido por Task Force!- para desenvolver a Telemedicina. Resumidamente, é a utilização de tecnologias de informação e comunicação pelos profissionais de saúde para realizar consultas à distância, que podem ser com os utentes e os profissionais de saúde ou até entre profissionais de saúde para esclarecimento de casos clínicos. O objetivo principal seria fornecer mais acesso de cuidados de saúde a quem está geograficamente isolado, adquirindo um equilíbrio na distribuição da utilização das especialidades médicas e, por conseguinte, um menor gasto de tempo nas deslocações. Isto significa que houve uma distribuição de equipamento informático para realização de videoconferências entre o hospital e um local estipulado pelo agrupamento de centros de saúde. Isto significa que as consultas à distância sempre foram uma realidade na gestão da saúde desde há 2 décadas em Portugal, em que o médico que observa o utente poderia recorrer ao colega especialista dos grandes centros urbanos para clarificação do diagnóstico e inicio mais precoce de tratamento adequado. E de fato isso aconteceu, de 160 equipamentos fornecidos apenas 76 foram consideradas ativos, segundo Matos et al.,(2014), Telemedicina em Portugal. Onde Estamos, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. A questão que se coloca é: porquê que existem mais de 80 equipamentos que não foram utilizados
Numa altura em que trabalhei num hospital em Lisboa, esse equipamento estava cuidadosamente guardado no armazém, porque “era caro” e “ninguém sabia utiliza-lo”! Ora aí está o foco de estar a redigir este texto: podem fazer grupos de trabalho/ Task Forces, escolher ou nomear uma centena de indivíduos para pertencer a essa elite, mas o importante é formar e informar quem está no terreno! A começar pela valorização dos intervenientes, profissionais de saúde e utentes, porque qual o mérito de falar com alguém por telefone, ecrã de telemóvel ou afins se não foi clarificado como lidar com o equipamento e qual o ganho que existe em realizar consultas à distância! A falta de confiança da informação veiculada desta forma é tão visível, que a maioria dos utentes que têm consultas médicas de especialidade hospitalar via telefónica, dirigem-se aos cuidados de saúde primários validar\ confirmar o que escutaram! Pois é… “Colocar a carroça à frente dos bois”, exige criatividade com previsão de muitos coices e dissabores!