SANFONINAS

Não faço nada!

Todas as frases mudam de sentido conforme a entoação que se lhes dá. Esta é uma delas.
Pode ser resposta ao pedido de um pai ao filho «Faz-me isto, por favor!» e o filho, com maus modos: «Não faço nada!»
Pode ser a resposta que ontem o meu colega Alberto, septuagenário, me deu quando lhe perguntei em que é que ora se ocupava. Verifiquei logo de seguida que era mentira. O Alberto continuava a ler muito e até preparava a monografia de uma igreja, porque o prior nela estava a fazer umas obras urgentes e a venda da monografia poderia vir a dar uma ajuda nas despesas.
Além do mais, somente o pensar que não se faz nada é mau para a própria pessoa.
Quantas vezes não ouvíamos dizer (felizmente, já é raro):
– Eu? Eu não faço nada! Olhe, sou doméstica!…».
‘Ser doméstica’ era, porém, sinónimo de que se tinha a cargo toda a lide da casa. E só quem nunca ficou encarregado, uma só semana que fosse, de organizar, por exemplo, as ementas da semana é que poderá pensar que tratar da lida familiar é tarefa de levar com uma perna às costas. Não é.
O que mais me preocupa, confesso, são os velhos. Dizia-me o Nuno, o motorista da Câmara de Palmela que me veio buscar a 18 de Junho:
– Quando me aposentar, não quero ir para o tribunal. Dedico-me à minha horta…
Interrompi-o:
– Tribunal?
– Sim. Em Palmela, no largo, os velhos reúnem-se. Há a 1ª vara e a 2ª vara! Passam ali o tempo nos julgamentos deste e daquele…
A agência noticiosa «Mundo ao Minuto» informou, a 28 de Dezembro de 2020, que o colombiano Lucio Cuiqito, de 104 anos, chegara à conclusão de qual o caudal perfeito de um rio para se produzir energia eléctrica. Terminou, durante a quarentena, a tese iniciada há 30 anos (formara-se, em 1947, como engenheiro civil, na Universidade de Manchester). Quando lhe perguntaram o segredo para se manter jovem, deu três receitas: «Tomar banho com água fria, comer muita fruta e aproveitar todas as horas mortas para ler ou estudar qualquer coisa».