A VIDA É FEITA DE EMOÇÕES


REVIVENDO UM PASSADO ESCRITO NA PELE E NA ALMA  
Embalado pela melodia do tempo , todos os dias aprendo um pouco mais . São as tradições vividas e que os nossos pequenos olhos captaram , para sempre são retidas na nossa memória e nos fazem reviver as coisas boas do nosso passado . Nesta aldeia alimentada pela seiva do tempo em despreocupada e amena cavaqueira com conterrâneo amigo de longa data , Amadeu de sua graça , homem honesto e bom , fazendo do trabalho o seu modo de vida , vivendo sempre em espírito saudoso , possuidor de muitas peças antigas da nossa lavoura , um pequeno museu etnográfico, peças de um quotidiano rural impregnadas de uma clamorosa simplicidade rústica . Vivo a fantasia de um passado em que a melhor magia que recordamos com simpatia, generosidade e simplicidade ,é aquela que transportamos nos nossos pensamentos . Somos um pouco daquilo que já conhecemos , dos lugares em que fomos felizes , um pouco das saudades com que ficámos e das coisas que gostámos e amámos . Tempos em que bens essenciais não chegavam “ on line “ a nossa casa , mas numa oferta personalizada alimentada pelo convívio e pela amizade . E com o entusiasmo de uma paixão recordada , falava com um coração de pura saudade . Todas as 5ª feiras , mas nem sempre á mesma hora vagueando num frio de Outono ou Inverno, temperaturas amenas de Primavera ou escaldantes de Verão , era despertada a população pelo som de uma corneta : era o azeiteiro . Vendia os mais diversificados produtos , o azeite medido ao litro , ao meio litro ou ao quarto ( quartilho ) , o petróleo para as lanternas e candeeiros , máquinas de cozinhar os alimentos ( fogões da época ) o sabão azul para a roupa e tomar banho , o amarelo para lavar o soalho da casa .  
De quando em vez o homem do ferro velho , como ser que divagava solitário , que se anunciava batendo com um pequeno martelo numa “ sertã “ “ velha , declamando em bom som o seu pregão : “ troco pratos e tijelas novas por ferro velho , farrapos de lã , peles de coelho e denticão “ . A tarde vai andando e entre velhas lembranças , a sorrir, nele se percebia um vulto de esperança . Procurava abrigo no pátio da tia Rosinha onde sempre lhe era garantida uma “ tijela “ de sopa quentinha . Um gesto lindo que se gravou dentro de nós . Ou no silencio da noite que faz medo pernoitava no forno comunitário , e na dor de criatura de Deus lembrava a vida de sua miseranda imperfeição .  
O amola tesouras como vulto que resplandecia na distancia como uma perpetuação da eternidade , tocava a sua gaita de beiços , transportava uma “ geringonça “ feita de madeira acupulada de uma roda como a das carroças dos burros e quando fixa tinha uma pedra de esmeril ligada a uma correia accionada com o pé e que agoçava facas , tesouras, canivetes e outra peças de corte .  
Infalivelmente todas as sexta-feiras , vencendo fantasmas de arvoredos e estrelas , o capador assinalava a sua presença tocando um apito de um som estridente . Quase todas as famílias compravam dois leitões , um para consumo da casa outro para vender. Sendo normalmente machos aos três meses tinham que ser capados , não o sendo eram animais chamados “ barrascos “ servindo apenas para “ cobrição “. 
Não foi esta a vida por eles escolhida , mas quase ninguém a escolhe . Foram destinados a uma vida de sacrifícios e privações , fadados a mover a terra de sol a sol de semear e colher algum fruto . À noite cansados da labuta do dia , quando transpunham a soleira da porta suavemente pousavam os objectos do seu sacrifício os utensílios da lavoura.