O NINHO


A CASA DOS NOSSOS PAIS
Os passarinhos 
Tão engraçados 
Fazem o ninho 
Com mil cuidados 
 
São p’ra os filhinhos 
Que estão p’ra ter 
Que os passarinhos 
Os vão fazer 
 
Nos bicos trazem 
Coisas pequenas 
E os ninhos fazem 
De musgo e penas 
 
Depois lá têm 
Os seus meninos 
Tão pequeninos 
Ao pé da mãe 
 
Nunca se faça 
Mal a um ninho 
À linda graça 
De um passarinho ! 
 
Que nos lembremos 
Sempre , também , 
do pai que temos , 
Da nossa mãe 
Afonso Lopes Vieira 
 
O tempo passou , mas de nós não levou a sensação da alegria que era viver na casa dos nossos pais . Os cheiros intactos impregnaram as nossas lembranças como gota de água eterna que é mar profundo . A casa dos pais era flor e aurora ,o melhor aconchego quando a vida ainda amanhecia e esquecemos que o amor que lá colhemos é a receita certa para se viver bem e voar … voar …nas distancias azuis da imensidade. A casa dos pais podia não ser rica , abastada , mas também não precisávamos de muito, lá tínhamos tudo sem nada pedir: pão , paz e carinho . Tudo o que precisávamos para nos completar, estava presente como a ternura de uma canção divina . Mesmo não sendo convidados a nossa chegada era sempre bem acolhida como saudade medrosa abrindo a porta assemelhando um sol que desponta . Lá dentro viviam olhos de amor num puro sorriso de bondade que fixamente olhavam a porta até nos verem entrar como aves do céu que a gente vê sonhando . Lugar onde vivemos dias felizes durante a nossa infância e juventude , sem as preocupações dos dias maus, tempestuosos,, sobressaltados e chorosos . Ao entrarmos de mansinho era como uma bênção os rostos alegres e bem dispostos do nosso pai e da nossa mãe e as conversações estranhas , simples e despreocupadas , reclamações e sorrisos que com eles mantínhamos eram uma doce recompensa . Casa onde em nosso ser , tudo vivia e ressuscitava como súbito alvoroço e a todo momento podíamos colocar a chave na porta e entrar diretamente , onde sem qualquer hipocrisia já encontrávamos posta a mesa do jantar , e quando não comíamos o seu coração ficava dorido e triste em murmúrios de um crepúsculo parado . Casa que nos oferecia momentos bons , todas as risadas e felicidades , e como casamento da lágrima e do sorriso , se lá não fossemos os seus corações morriam de mágoa e dor pois só morre quem ama . Casa sagrada que em amável solidão se tinham acendido duas velas que iluminavam o mundo e enchiam a sua vida de magia , felicidade e alegria. A casa dos nossos pais era um tipo de paz passada que ainda dura no presente.