Cuidar um desafio para tratar


Existe uma distinção óbvia entre a objetividade de tratar uma doença, e a subjetividade de cuidar uma pessoa com uma doença. Tratar uma situação diagnosticada requer técnicas e resultados imediatos para restabelecer o equilíbrio, no entanto a médio e longo prazo é fundamental manter esse equilíbrio\ estado de saúde. Aqui divergem as atitudes, formas de pensar, formas de atuar de cada pessoa. Estando numa situação de aflição, dor, angústia, o meu desejo é aliviar o desconforto e dar resposta imediata ao meu problema.
Quando consigo chegar o alívio, ao sucesso, desvalorizo o que tive “porque é melhor esquecer!” ou “pôr o assunto no horizonte” de preferência longínquo!
A diferença entre cuidar e tratar está retratada em vários artigos científicos, teses de doutoramentos e mestrados, e muitos documentos recheados de citações de eruditos académicos, que detém o conhecimento milenar de saber as necessidades humanas! Compartimenta-se o saber em documentos maçudos, enaltecemos os calhamaços, e fustigamos a prática com teorias já utilizadas por quem nem sabia ler. Tentamos reinventar a roda, quando o veículo não tem pessoas para transportar; discriminamos a simplicidade de falar para dar lugar à complexidade do discurso especializado; consideramos a máquina e desconsideramos a pessoa.
E é tão fácil ser empurrado para o descuido, porque o tratar é sempre garantido, já o cuidar só existe que eu quiser! É cada vez mais aliciante verificar indivíduos que querem participar na recuperação do seu estado de saúde não estando apenas focados na sua doença! Apesar da falta de disponibilidade, imposta pela azáfama do stress diário, é notória a responsabilização da própria pessoa da sua condição física e psicológica. Sendo uma virtude a busca pelos cuidados de saúde, mesmo acometida por obstáculos alojados à burocracia antiga, enraizados em hábitos de valorizar a doença e a hospitalização.
Ainda existe um caminho longo para gerar mudanças, quer nos profissionais de saúde quer nos gestores de saúde, que reverenciam as técnicas mais invasivas e escarnecem os ensinos para a saúde, que tanto previnem o desconforto, dor e angústia. Gostam de divulgar a literacia, mas subsidiam os cuidados diferenciados à custa dos cuidados mais básicos. Mas os ganhos para a saúde, esses têm origem na simples pergunta “Como se sente?” invés do carrancudo “Que é que tem hoje?”
Este desafio é de todos, para todos e com todos! Ninguém é melhor ou pior por estar onde está, e isto parte da filosofia de viver melhor.