Ucrânia-Portugal (Semelhanças Antagónicas)
Assistimos diariamente, ao fluxo de cidadãos ucranianos, a trabalhar no estrangeiro, que se auto mobilizam para lutar pelo seu país, contra um invasor prepotente e louco e que dispõe sob o seu comando, de um dos maiores e mais bem apetrechados, exércitos do mundo.
Sabem que as hipóteses de levar por diante a tarefa para as quais se voluntariaram, serão tantas: como as de jogar na roleta russa, com um revólver completamente municiado. Alguns nunca pegaram numa arma. Nunca deram sequer um tiro. Ao invés de sentirem preocupados com as suas vidas, sentem uma enorme ambição em defenderem o seu país. É gente ousada e audaz, que traz à lembrança a lenda dos “300 espartanos de Leônidas na batalha de Termópilas”. Têm uma ténue esperança de salvar a sua pátria, e com cidadãos assim: qualquer país sente uma imensa honra e dignidade, no conceito das nações. Mesmo que percam a guerra, eles já a ganharam antes, com a sua imensurável vontade de defender, aquilo que lhes pertence: o solo da sua pátria.
Em antagónica semelhança, recordo a atitude de uma boa parte dos portugueses, perante a guerra das nossas ex-colónias. Não pela semelhança com esta, porque até seria imoral comparar o incomparável, mas pelo pânico de tantos portugueses que na contingência de terem de defender o que era seu, escaparam para o estrangeiro, numa exibição de indecente e abominável cobardia.
Conheço, talvez melhor que muitos, esta triste indigência portuguesa, por ter cumprido parte do meu serviço militar a ministrar instrução a muitos desses “heróis”, que eram apanhados, nas suas escapadelas clandestinas a Portugal, e enviados para um centro de instrução militar no Ambriz, no norte de Angola, donde não podiam escapar.
Claro, que a sua grande maioria permaneceu no estrangeiro, espreitando a evolução dos acontecimentos, lá de longe. Outros até chegaram a pedir asilo político, numa clara e sórdida conduta, para os que lá defendiam os nossos territórios, incluindo os militares nativos, que sentiam o pulsar da alma lusitana, tanto como os que iam da metrópole, e inigualavelmente mais do que aqueles que fugiram, quando o seu país precisava deles.
Um reconhecimento a esses bravos combatentes africanos, que Portugal abandonou e esqueceu, deixando a todos eles como herança: uma guerra generalizada em todas as ex-colónias.
Aos “bravos heróis”, que regressaram ao seu país logo após o 25 de Abril, intitulando-se detentores de diplomas de sofisticadas ideologias, que lhes conferiu o acesso direto aos lugares de topo, da hierarquia política deste indigente e infeliz país, que a verdadeira história contemporânea portuguesa, os recorde como o maior embuste de todos os tempos. Foram, e são isso. E nada mais.
São estas, as verdadeiras semelhanças antagónicas, que nos diferenciam dos ucranianos. Não vale a pena esconder nada.