Em suspenso


Passaram-se dois anos desde que o Mundo foi ameaçado por uma guerra silenciosa, o Covid. Foram anos de frustação, de impotência, de luta contra um vírus invisível, que vai e volta e que teima em permanecer entre nós. Um vírus que nos tirou muitas vezes a alegria de conviver, de viajar, de fazer planos. Olhando para trás, fica a imagem de um vazio, a sensação de que o tempo continuou a contar, mas as nossas vidas ficaram em suspenso. Aos poucos vamos vendo a luz ao fundo do túnel, pequenas grandes vitórias a caminho da recuperação da nossa liberdade. Quando tudo parecia estar a normalizar, inicia-se a guerra na Ucrânia, que retirou o protagonismo à pandemia e a colocou em segundo plano. Desta vez o inimigo não é invisível, nem tão pouco silencioso, a guerra é real.
Mas em tempos de Páscoa, as tradições em todo o país mantêm-se. É altura para os rituais cristãos, para o convívio em família e para muitos, as aguardadas férias. Ao longo da semana santa, que começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa, de norte a sul do país, as ruas embelezam-se com flores para receber o Compasso Pascal. A Procissão da Burrinha em Braga, a Procissão das Flores no Algarve, a Benção dos borregos no Alentejo, o Jantar do Mordomo da Cruz no Minho, o Enterro do Bacalhau nas Beiras, entre tantos outros costumes, aguçam a curiosidade dos turistas e são motivo para visita.
O final do jejum é marcado com os pratos tipicos da Páscoa, onde não pode faltar o borrego, o cabrito ou o bacalhau. Para quem tem o paladar mais aguçado, vale a pena fazer alguns kilómetros para comer estas iguarias. O folar de Páscoa doce ou salgado também marca a presença, bem como as amêndoas e os ovos de chocolate, os preferidos dos mais pequenos, que não escapam às tradições da Pascoa, com a oferta de um ramo de oliveira ao padrinho ou de violetas à madrinha no Domingo de Ramos.
Dada a conjuntura, uns ficar-se-ão pelo convívio em família, outros terão oportunidade de festejar em pleno, à boa forma portuguesa, fugindo pelos pingos da chuva. Agravam-se assim as assimetrias, provocadas por um clima de instabilidade e aumento generalizado dos preços. Neste turbilhão de acontecimentos, com impactos sócio-económicos em todo o Mundo, resta-nos manter a esperança de que melhores dias virão. Adiamos os planos mais uma vez e vamos vivendo, contidos, na incerteza do que virá a seguir…