lendas, historietas e vivências

O Penedo da Moura
(continuação)

Esta ideia de que a Moura estaria a viver no interior do penedo arrastou-se, provávelmente, por centenas, se não, milhares de anos e chegou a meados do SEC XX. No início de 1900 a dimensão de Mangualde era bem pequena e distribuía-se por pequenos aglomerados de habitações a que se dava a designação de Bairros. Pelos arrabaldes espalhava-se algum casario rudimentar acoitando-se junto a uma casa dominante de pessoas mais endinheiradas ou de “ nome”. Assim era a configuração da maioria das povoações que rodeavam, mais ou menos longe, a pequena vila de Mangualde. Assim era com o lugar da Estação (do Caminho de Ferro) e das aldeias de Cubos, “Cães de Baixo, “ Cães de Cima”, Ançada, Almeidinha, Mesquitela e várias outras… Aldeias relativamente pequenas rodeadas de campos cultivados e pastagens alternando com arvoredo e matas imprimindo a sensação de se estar longe dos centros de decisão, aconchegando-se o pouco casario à roda de pequenos largos onde o povo convivia e fazia as suas festas, normalmente religiosas. O bairro da Estação resumia-se a não mais de vinte ou trinta casas que se iam estendendo ao longo da estrada de paralelos a caminho da vila. A pequena aldeia de Cubos relativamente próxima encaixava-se ao longo de um riacho entre duas encostas pedregosas – uma, o Casalinho a poente, a outra para Leste com a sua extensa e bela penedia – onde se erguiam as palheiras e respectivas eiras - com uma longa história ligada a este povoado e onde eram desenvolvidos, durante o verão, os duros trabalhos das malhas. Era a este conjunto rochoso que se ligava o lendário Penedo da Moura e um outro que se desdobrava por mais de cem metros ao longo da encosta das palheiras. Era o famoso Penedo Escorregadoiro - que ainda fará parte do imaginário de meia dúzia de cidadãos resistentes na sua vida terrena. As aventuras de infância da “pequenada” da Estação estavam coladas à Escola Primária de Cubos. A “pequenada” da Estação era um grupo de cerca de dez ou doze meninos e meninas vivaços, turbulentos, cujas aventuras simples e ingénuas deixavam os pais aflitos ou zangados perante a eminência dum qualquer acidente nefasto. Raro era o dia em que um deles não voltava do caminho da Escola com algumas mazelas no corpo - joelhos esfarrapados, unhas dos pés arrancadas ( Ó mãe dei uma “topada” numa pedra… e lá vinha um a coxear), galos monstros na cabeça, um olho negro…lágrimas a escorrerem pela face. Enfim, todos os acidentes que fizeram os meninos crescer com um salutar espírito de Amizade, resistência, inter- ajuda, e de protecção mútua. Eram sempre muito desejadas as deambulações desastradas pelo encantado Penedo da Moura e pelo Escorregadoiro…
(continua)