EVOLUÇÃO DA HIGIENE CORPORAL


Vários povos que viveram em tempos muitíssimo recuados, já dispunham de edifícios onde praticavam os banhos públicos. Por volta de 3.000 anos a.C., os Egípcios faziam rituais sagrados na água e tomavam vários banhos por dia, porque acreditavam que a água, além de limpar o corpo, também purificava a alma.
Os Gregos, principalmente na Ilha de Creta, entre 1700 e 1200 a. C., desenvolveram técnicas avançadas para a distribuição da água utilizada nos banhos públicos. Os Romanos herdaram muito da cultura grega e seguiram também a “adoração” do banho. Para esse fim construíram sumptuosas termas em muitas das terras do seu Império. As termas romanas, além de terem numerosas divisões, destinadas a uma complicada balneação (caldarium, frigidarium, tepidarium, etc,), tinham jardins, ginásios, biblioteca, teatro, etc. Na Lusitânia também foram construídas várias termas, das quais ainda hoje existem reminiscências, como as de Lisboa, Milreu e Conímbriga. Entre as termas romanas sobressaem as de Caracala e as de Diocleciano, as quais podiam comportar, respetivamente, até 1600 ou 3200 pessoas.
Os Árabes continuaram, na Península Ibérica, a tradição balnear herdada do tempo dos romanos.
Entretanto, a Igreja, nomeadamente Gregório I, que foi Papa entre os anos 590 e 604, insurgiu-se contra os pecaminosos hábitos adotados pelas pessoas que tomavam banho completamente nus. Por outro lado, passou-se a considerar exagerada a frequência dos banhos. Bastaria lavar a cara e as mãos e, quando muito, tomar banho uma vez por ano.
O banho anual tinha lugar no tempo mais quente, ou seja, a partir da época do mês de Maio. Era utilizado um barril que enchiam de água aquecida e servia para toda a família aquela mesma água. O privilégio de ser o primeiro pertencia ao dono da casa. A ele se seguiam os outros homens da família, começando pelos mais velhos. Seguidamente era a vez das mulheres do lar seguindo a mesma ordem. Se existisse um bebé, seria o último. Como se compreende, quando chegava a vez deste, a água estava tão suja que não seria difícil perder o bebé lá dentro. Daí nasceu a expressão, ainda hoje muito usada – eu ouvi-a hoje mesmo a um jornalista de uma estação televisiva – “cuidado, não jogue o bebé fora, junto com a água do banho”.
A falta de higiene revelava-se também em vários aspetos do comportamento das pessoas. As águas dos usos domésticos, as fezes e outras imundícies eram lançadas pela janela para as ruas da Lisboa medieval, podendo os transeuntes serem atingidos pelos mesmos. Para tentar evitar isso, tornou-se obrigatório gritar antecipadamente “água vai”, em obediência a um edital municipal de 1809.
A maioria dos casamentos acontecia no mês de Maio, quando o odor das pessoas era ainda suportável. Para dissipar o mau cheiro, as noivas levavam um ramo de flores junto ao corpo.
Atualmente, em Portugal, os balneários localizam-se perto das nascentes de água medicinal e são-lhe atribuídas certas terapias geralmente muito divulgadas.