A vida sem telemóvel

Era um Trim Trim tão alto e estridente que era impossivel ignorá-lo. Quebrava o silencio da casa e fazia-nos saltar do sofá na ânsia de descobrir quem estava a chamar do outro lado e perguntáva-mos: Quem fala?
Era um mistério quem nos ligava. O telefone não tinha ecrã, a chamada não identificava o número, nem tão pouco havia lista de contactos. Tinhamos que decorar os números. A agenda em papel era fundamental, toda rabiscada, ia acumulando os números mais importantes por ordem alfabética.
Era preciso ficar em casa à espera daquela chamada superimportante. Quando finalmente o telefone tocava, estava ligado à tomada por um fio com apenas um par de metros, o que nos obrigava a ficar presos no mesmo lugar. Puxava-mos uma cadeira e lá ficavamos a falar, na sala ou no meio do corredor. Era um telefone para toda a família, sem nenhuma privacidade e por vezes quem atendia não era a pessoa mais conveniente…
Não havia toques divertidos a imitar passarinhos nem ritmos musicais, não havia mensagens com imojis, não havia chat no Whatsapp, não havia outra forma de comunicar.
E quando saíamos tinhamos de levar a agenda connosco, essa sim, era portátil e procurar um café ou uma cabine telefónica se pretendessemos fazer uma chamada.
O telefone evoluiu, começou como uma máquina grande e fixa à parede. A manivela que accionava a telefonista, deu lugar a uma roda estranha, tipo roleta para discar os números, depois a roda deu lugar aos botões. Seguiram-se os primeiros portáteis, tão grandes e pesados que se assemelhavam a um caixote. Foram reduzindo de tamanho até parecerem uma caixa de fósforos, voltando a aumentar de tamanho podendo até ser dobráveis.
Nos dia de hoje é impensável passar um único dia sem telemóvel, sem a possibilidade de comunicar de forma imediata, de estar ligado ao Mundo. O telemóvel é muito mais do que um telefone. É a nossa televisão, o nosso rádio, o nosso jornal, a nossa enciclopédia, os nosso jogos, os nossos albúns fotográficos e muito mais. Tudo concentrado num equipamento do tamanho da palma da mão ligado à Internet.
O que era de nós sem poder enviar e receber sms a qualquer hora do dia, sem net, sem jogos, sem redes sociais, sem agenda, sem tudo… A nossa vida está concentrada num smartphone. Somos dependentes.
O que acontece quando saimos de casa e nos esquecemos do telemóvel? Pânico! O que é que eu vou fazer? O que hoje é angustiante, antes era uma normalidade. A verdade é que viviamos sem telemóvel. Seria um tédio?
Há pessoas completamente dependentes do telemóvel e a ciência chama-lhe nomofobia. Os telemóveis foram inventados para servir as pessoas, mas hoje somos dominados por eles. As relações humanas estão a perder-se, relacionamo-nos com tudo através de uma maquina. Qualquer que seja a circunstância, olhamos para o lado e vê-mos toda a gente de olhos baixos, fixados no ecrã, no silêncio. Será um tédio?