lendas, historietas e vivências

Vivências
Agora que se voltou a ouvir, ver e falar de guerra a toda a hora na TV, tenho sempre a tentação de recordar factos e reviver situações que me levam lá para os fins da Segunda Guerra Mundial… É que, embora pequenita e sem visualização nenhuma da queda de bombas, do barulho dos carros de assalto ou o vozear dos exércitos a passarem, o facto de ouvir notícias “no tal radio que o Pai comprou e “único no bairro” alimentado a bateria de automóvel, já que luz eléctrica ainda não se via por nenhum horizonte” excepto lá muito acima na vila. Eu não via, mas ficava assustada.. E desse tempo me lembro de ouvir comentários dos vizinhos que todos os dias vinham ouvir as notícias da BBC junto ao precioso rádio que tanta informação permitia…. De vez em quando a voz sumia-se e ficavam todos de ouvido em cima do aparelho. Os comentários que saltavam daquelas bocas sempre receosas, embora as batalhas ainda fossem muito distantes, eu ouvia-os e cá no meu coraçãozito havia sempre um sobressalto…e alguns diziam… e se os “alemões” vêm por aí abaixo também dão cabo de nós….”! As imagens eram poucas só aquelas que alguns jornalistas afoitos mandavam lá dos lugares das batalhas e que o Pai e todos os que podiam ter acesso conseguiam ver nos Jornais. O “Primeiro de Janeiro…” O do Pai era deixado diariamente, a seu pedido, pelo jornaleiro do Comboio Correio, e pago todos os fins de mês no Bar da D.Teodolinda, mesmo na Gare. Assim nunca faltava em casa e depois corria de mão em mão pelos Amigos vizinhos….Que tempos !!!! Já não deve existir ninguém que se possa lembrar destes factos que fazem a história deste lugarzinho hoje já “confundido com a cidade.” O Primeiro de Janeiro” era uma verdadeira fonte de informação ligeiramente atrasada já que os meios de comunicação para enviarem as notícias não eram instantâneos como agora. E quando deixado pelo combóio na Gare, para que o atraso fosse menor era o Amigo Sr Quinzinho, empregado ferroviário, que no fim do seu trabalho o metia debaixo do braço e lá vinha ele todo ufano trazer as notícias “frescas” do Amigo Matias. Raro era, quando não tinha de parar na loja dos Azevedos, para que o Sr. Cândidinho e outros Amigos fossem os primeiros a dar uma vista de olhos às desgraçadas notícias…. Pronto. Vá… vá, passem cá o jornal que já vou atrasado…. E lá vinha o Sr. Quinzinho mão no bolso da jaqueta de trabalho a caminhar muito apressado estrada acima, que o Amigo Matias estava à espera…. Pra lá da Guerra por aqui as AMIZADES eram a sério….QUE TEMPOS!!!…