FLORES E SORRISOS


A PRIMAVERA

De uma forma cândida entrámos na estação das flores. A primavera em todo o seu esplendor, com lampejos de luz, cores, matizes, perfumes e odores. Despertam os ribeiros e os riachos. Os terrenos cultivados, as courelas ressuscitam do seu estado letárgico ou de pousio adormecidos pelo frio do Inverno. É o ressurgir da Mãe Natureza numa perfeita euforia pelas flores que desabrocham, pelas ervas que enverdecem, pelas terras que se lavram. E tudo vive e acorda do marasmo da original inércia imperturbável. É o início de um novo ciclo de vida.
Lavra boi…. Lavra….. “Juntas” silenciosas e submissas atreladas ao cambão sulcam com a charrua a terra em fendas profundas soltando um inebriante odor a terra fresca e mexida. Pela natureza acidentada e pequenez das nossas leiras, as sementeiras são um trabalho braçal de jorna. Gozamos o disfrute da beleza dos dias luminosos. Os cheiros intensos, maravilhosos e diversificados que pairam no ar emanados das árvores e plantas floridas nas distâncias de imensidade das cores alegres, vistosas e matizadas das flores em botão, capazes de atrair pequenos insetos ou laboriosas abelhas. Senhoras de manhãs vitoriosas, aves canoras que contagiam com o seu fecundo seio as sementes que mais tarde em hastes robustas se elevarão aos céus num acto de glorificação. É grande a azáfama nos campos. As sementeiras das batatas, do feijão, do milho e das hortícolas. Com sons primaveris nas horas emotivas somos surpreendidos pelo canto de uma ave migratória que sempre regressa ao sítio de acolhimento para nidificar, como intrometido e mau carater pela falsidade em fazer a sua postura nos ninhos de outras aves, agindo como verdadeiro parasita. O cuco. É nesta rústica paisagem um pontual anunciante da Primavera e do início do trabalho nos campos. Em divina graça extasiada com a sua saia de rendas de alvorada a moçoila alegre e sorridente, com o suor a escorrer pela sua face rosada, amanha as leiras vergada ao peso da enxada. Faz questão de saber quantos anos o cuco lhe reserva de solteira, já que o amor há muito lhe transborda do coração. Ansiosa, mas esperançada que o cuco cante o menos número de vezes:
-Cuco do ramalheira, quantos anos ainda me dás de solteira?!… Nunca a tristeza ou alegria esperança ou frustração dependeram tanto do canto do cuco. E como um fulgor derramado o tralhão, pequena ave, alegre de canto melodioso que nesta época aflui em elevado número à nossa região é um fiel embaixador das luzes misteriosas da Primavera. As andorinhas com as suas vestes de freiras conventuais nunca esquecem o porto de abrigo onde nidificaram.
Mas os tempos mudam as mais duras vontades, mas nem sempre as mais duras vontades mudam os tempos.
Tudo o mais é ilusão…