25 de Abril : O reverso das medalhas (II)


Os primeiros tempos pós 25 de Abril, soltaram em Portugal uma revolução mais anacrónica e indesejável, que a própria ditadura que tinha derrubado. Tudo era revolucionário: não por ideologia mas por simpatia. Era tudo moderno e reformável. O país precisava de uma nova face, que convencesse os mais sépticos que a quimera do “socialismo científico” era o sistema ideológico mais adequado, para reger os destinos de Portugal e das suas Colónias. A nova face do progresso apresentava-se agora de barba hirsuta, e até as próprias forças armadas superaram esse dogma, acrescentado-lhes o cabelo gadelhudo, assemelhando-se em tudo: aos ursos do Alasca. Era tempos de glória e pândega, que pela primeira vez conviviam de mãos dadas neste país, que se aprimorou a festejar a revolução e se esqueceu completamente da produção. No futuro imediato colhemos a fruta amarga, dessa estranha e irreconciliável união.
Para Angola e em força… e com a finalidade de entregarem o poder ao movimento de guerrilha, de índole ideológica preconizada pelos pelos progressistas civis e do MFA portugueses, foram enviados: o novo representante do estado português e a nova geração de militares, com camuflagem natural, para renderem e passarem à disponibilidade compulsiva, todo o pessoal militar que lá serviam a Pátria, agora, com ideias obsoletas e que urgia despachar do ativo.
Com a nova geração dos militares portugueses já no ativo, e a entrada em funções do Alto Comissário Português, Almirante Rosa Coutinho, cunhado de Agostinho Neto, líder do MPLA e lacaio do imperialismo soviético, iniciou-se uma insidiosa campanha de terror contra os portugueses, visando a sua debandada para Portugal, para instalação a seu bel-prazer, e em todo o território, do regime comunista, já que os deficientes acordos do Alvor, nunca foram para ser cumpridos, e não o seriam garantidamente.
Os acordos com os movimentos nacionalistas para a independência de Angola, foram feitos, com os representantes portugueses ajoelhados, e quase pedindo por favor, aos nacionalistas, que aceitassem a independência, porque eles desconheciam o rumo que deveriam dar aquele território. Sem qualquer noção da realidade que se vivia no terreno, excluíram os portugueses que lá viviam e nasceram, numa irresponsabilidade acanalhada e completamente acéfala, que resultou num dos maiores êxodos da história contemporânea, com centenas de milhares de pessoas humilhadas e despojadas do esforço do trabalho das suas vidas, deixando Angola sem a maioria dos seus quadros, indispensáveis ao futuro daquele país, e sobrecarregando o desemprego em Portugal, que não estava minimamente preparado para absorver tanta mão de obra.
Foram tratados e abandonados como cachorros sem dono: os portugueses, que viviam e nasceram nas colónias portuguesas, bem como os cidadãos naturais, que
serviram civil e militarmente Portugal. Aviões, carregados de silêncio, repletos de mágoa e tristeza, iam e vinham, humanitariamente, trazendo o vexame de uma nação, e desprovendo, por décadas e décadas o futuro de outras. Não há perdão para os promotores desta vergonha nacional, e pior ainda para as guerras fraticidas que geraram, onde perecerem mais de um milhão de seres humanos inocentes.
Não se pode condecorar gloriosamente gente, que contribuiu, por ação ou omissão, para a desgraça e expiração de tantos milhares de inocentes, só porque os fins nos parecem altruístas e patrióticos. Nem todos os portugueses estão distraídos ou têm memória curta.