STELLANTIS Mangualde (Ex- PSA) – Comemora 60 Anos : 1962 – 2022

O Centro de Produção de Mangualde da Stellantis (Ex-PSA) comemora este ano 60 anos . Parabéns à Stellantis !
Tive a honra de viver profissionalmente 30 destes 60 anos. Entre 1986 e 2016.
Aproveito esta efeméride para deixar um grato testemunho da sua evolução, partilhando algumas das muitas memórias dessa vivência.
Tinha em 1986 menos de 400 trabalhadores e funcionava com uma equipa, um turno. Um sistema industrial marcado por mão de obra intensiva, baixa produtividade, fraco nível tecnológico e um elevado grau de integração. Incluía Ferragem, Pintura, Montagem, Estofos e Cablagem. Situação hoje impensável dado o grau de especialização das fábricas e do setor.
Em 1996 passámos de 1 a 2 turnos e em 2000 de 2 a 3 turnos. Tornou-se por esta via de crescimento por turnos, conjugada com um gradual crescimento capacitário, uma das 10 maiores exportadoras a nível nacional e uma das maiores empregadoras da região.
Produziu ao longo da sua história mais de 1,5 milhões de veículos e atingiu um volume de vendas anual que ultrapassa os 600 Milhões de euros.
Tendo iniciado nos anos 60 com bases industriais elementares e sem grandes mecanizações, nem automatismos, fez um notável caminho de transformação tecnológica. A partir de 2015 reforçamos a vertente da inovação iniciando relações com as Universidades e Centros Tecnológicos.
Várias gerações com grande dedicação, profissionalismo e grande capacidade de adaptação ás exigências construíram uma história industrial de grande sucesso, num local pouco previsível, para o qual contribuíram, entre outros, o industrial José Coelho dos Santos que, em contexto de condicionamento industrial, logrou obter uma licença de construção automóvel.
Ao longo do tempo, os seus colaboradores foram capazes de responder aos standards e ás exigências industriais internacionais e de atingir os melhores níveis do Grupo PSA em termos de qualidade, competitividade económica e segurança, entre outros. De mostrar sempre grande capacidade de, a baixo custo, terminar um modelo e lançar outro novo. Foi esta flexibilidade e estas características que lhe garantiram a sobrevivência.
Neste período tivemos que nos adaptar ao Euro e implantar as normas internacionais da qualidade e do ambiente.
A produtividade evoluiu de uma lógica de ganhos de produção também para uma lógica mais tecnológica e de redução de tempos. O management qualificou-se e adaptou-se a padrões internacionais. A cultura industrial sofisticou-se em todas as linhas hierárquicas.
Não posso deixar de lembrar a notável e histórica capacidade de resiliência que tivemos no último trimestre de 2008 e 2009 com os brutais efeitos da crise do sub - prime em que a fábrica correu o seu maior risco de fechar. Fomos capazes de ajustar os custos a uma queda de mais de 50% da sua produção, condição incontornável de sobrevivência, cortando um turno, reduzindo a capacidade dos outros dois e ainda reduzir o calendário de trabalho. Com “nervos de aço”, determinação e eficácia e grande capacidade de negociação com o grupo PSA e com o Ministério da Economia, fomos capazes de vencer a crise vital e abrir o caminho do futuro.
Crítica foi também a conquista dentro do Grupo PSA pela atribuição dos atuais modelos(K9). Nunca os compromissos internos de produtividade e eficiência assumidos pelos diversos setores da fábrica tinham ido tão longe, nem o exercício de racionalização do investimento necessário tinha sido tão aprofundado. Também do lado da candidatura aos incentivos ao investimento houve múltiplas e complexas interações com o Ministério da Economia. A garantia e o anúncio público destas novas produções foi suspenso até entrarmos na equação. Em conjunto tudo ultrapassamos e tudo vencemos.
Duas grandes vitórias desta fábrica no contexto de duas grandes crises mundiais que muito afetaram o setor automóvel : a do Sub-prime e a das Dívidas Soberanas.
Relembro outras grandes evoluções em outros domínios. Sobretudo a partir da crise referida anteriormente, esta grande empresa “esquecida entre as montanhas”, passou a estar presentes em todos os órgãos importantes de comunicação social, com frequentes explicações à região e ao país das razões porque tirávamos um turno ou quando mais á frente o implementávamos de novo, ou quando lançávamos um novo modelo.
A empresa passou a ser convidada para os “Think Tanks” no Ministério da Economia e em São Bento, no Primeiro Ministro, como voz industrial presente e respeitada.
Vários modelos foram feitos ao longo da sua história entre os quais os dois míticos 2 CV e o DS- Boca de Sapo. Estes dois modelos foram monumentalizados em 2 rotundas de Mangualde em que foram mobilizados vários parceiros e fornecedores da empresa para a sua execução, sem custos públicos, e que dão a Mangualde a distinta marca de uma cidade automóvel. Multiplicaram-se os apoios às instituições locais.
Esta fábrica, que tanto contribuiu para o desenvolvimento de Mangualde e da região, teve ao longo das últimas décadas um emprego médio direto superior a 1000 colaboradores e algumas centenas de empregos indiretos, realizou largas dezenas de milhares de horas de formação profissional. O seu impacto na economia regional e nacional, por via do emprego, das compras locais, dos impostos e como indutor do desenvolvimento de novas empresas, de fornecimento de bens e serviços, dos transportadores etc. tornou-se numa verdadeira âncora regional e numa das maiores empresas nacionais. É um dos maiores e melhores ativos da nossa indústria, num setor altamente concorrencial, sujeito a grande inovação tecnológica.
A sobrevivência desta fábrica deveu-se sempre à conjugação das competências internas com o reconhecimento do seu valor para o Grupo por parte de França.
Parabéns ao Centro de Produção de Mangualde da Stellantis e a todos aqueles que nele trabalhando, ao longo de 60 anos, construíram esta insuperável história!