TEMPO SECO

Os Fins e os Meios

Pode-se conseguir um bom fim através de uma má ação? Sempre pensei que não. Contudo, há fatos que nos podem fazer suspeitar da verdade desta resposta.
A ética não é uma ciência exata. Existe uma ambiguidade nos seres humanos, que faz com que as ações mais nobres, possam ter motivações duvidosas, e até a depravação e a revolta humana podem ter um lado virtuoso. Provavelmente em situações limite, não há mais remédio: que recorrer à violência para sobreviver, o que pode ser entendido: como uma legítima defesa.
Acontece hoje, em tantos casos paradigmáticos que vemos na comunicação social, que nunca chegamos a saber o cerne que levaram situações complicadíssimas a acontecer. E, é o caso, salvando as enormes distâncias, da conjura para assassinar Hitler em Julho de 1944. Claus von Stauffenberg e os demais oficiais do exército alemão que participavam neste plano pensavam que o único meio de por fim a guerra e à destruição do seu país, era eliminar o ditador nazi.
Colocar uma bomba no lugar onde se reunia com os seus generais era um crime, mas, este crime estava justificado porque, além de serem todos criminosos, poderia salvar milhões de vidas humanas.
Von Stauffenberg era um homem de honra, de sólidos princípios, que se apercebia de como a loucura criminosa de Hitler desonrava o exército e o povo alemão. Assim, encontramo-nos na contradição de ter que dizer que fazia bem ao tentar matá-lo, embora se tratasse de um homicídio. As circunstâncias entre este fato e um possível assassinato de Putin, só diferem, porque não aparece o homem, que como Stauffenberg, execute essa tentativa, porque na sua loucura sanguinária, Putin vai eliminando todos os potenciais candidatos a essa tarefa.
A Ucrânia. Onde prósperas e belas cidades, são hoje meros amontoados de escombros. Os seus quintais e jardins transformados em cemitérios. Milhões de refugiados fora e dentro do país. Orfãos a quem roubaram os pais e vagueiam pela Europa. Pais a quem roubaram a felicidade de poderem criar os seus filhos. E, tantas outras atrocidades que se podiam enumerar, merece um ator em cena, semelhante a Stauffenberg e com resultados positivos.
Merecia também, um apoio mais robusto e atempado por parte daqueles, que são mais atores que espetadores, como é o caso dos países do Ocidente, que vão satisfazendo as solicitações bélicas da Ucrânia a conta-gotas, deixando-a debilitada e sem meios de uma resposta à altura e no tempo certo. Antes da guerra preparamo-nos para ela: foi isso que Putin fez na última década, debaixo dos olhos complacentes da Europa, que lhe forneceu as componentes bélicas que ele solicitava e o deixou encher o cofre com os meios financeiros, que ele iria utilizar para fazer frente às sanções, que hoje prejudicam mais os sancionadores que o sancionado.
Se, e como evoca a Rússia: a Ucrânia faz uma guerra por procuração do Ocidente. O ocidente, não pode ter a veleidade de pensar que tudo vai ficar bem, quando a Ucrânia claudicar. Muito pelo contrário: a cobra só deixa de expelir veneno depois de morta. Se Putin agride a Ucrânia, com os meios mais poderosos, a partir do Mar Báltico, a Ucrânia deve estar apetrechada, com meios capazes de poder retribuir e destruir, no local do crime, o seu agressor. O direito à defesa é um direito universal. Ignorar esse direito é um erro fatal, do qual todos nos vamos recordar.
Todos têm medo, e com razão, do nuclear, mas se Putin vencer: o nuclear vai persistir ou até mesmo aumentar.