TEMPO SECO

A Louca Contemporaneidade
A desgraça passou a ser a nova moda: a beleza convulsiva do desprezo e o desapego do resto da pouca moralidade que ainda morava entre nós. Esta pouco fiável nova era, trará à memória as ruínas do mundo velho mas ponderado, ora substituído pelas diferenças radicais acantonadas, onde o bem e o mal não são distintos, mas simplesmente aliados. Já se adulteram as desgraças da nossa contemporaneidade, para perpetuá-las no futuro falsificado.
A tentativa de lavagem da mancha negra gonçalvista, do pós-revolução dos cravos, é uma manifestação lúcida: da nossa consentida humilhação e da arrogante insolência de quem escandalosamente se atreveu a sugeri-la.
Fazemos “tábua rasa” de todo o percurso ruinoso e instável do camarada Vasco Gonçalves, em catorze meses de governação como primeiro ministro de Portugal?! Esquecemos as mil e trezentas empresas nacionalizadas e que desapareceram, algumas delas de relevante interesse estratégico para a economia portuguesa?! Até barbearias, restaurantes, hoteis, modestas fábricas de transformação de tomate e um cortejo excêntrico de pequenas e médias empresas espalhadas pelo país?
Do homem que tudo fez para implantação, do poder popular e de um estado marxista no extremo ocidental da Europa? Tenho a perfeita noção: que muito melhor, em tempo certo e com a devida prudência, teria sido feito por Marcelo Caetano, se lhe tivessem dado o tempo necessário para isso. Muitos terão vergonha de referir um homem do Estado Novo: para alguns é crime lesa-pátria evocar os governantes honestos do nosso país. Eu não tenho esse preconceito, porque vivi na pele, os efeitos perniciosos da imaculada revolução dos cravos.
Este homem, que destruiu um terço da economia portuguesa, ter direito a uma estátua num jardim qualquer da cidade de Lisboa? Até a vegetação do malogrado jardim, onde fosse implantada, secaria esturricada, pelo mortiça presença de tão funesta imagem!
Não seria uma afronta, àquelas centenas de milhares de pessoas, que se viram obrigadas a abandonar as ex-colónias, deixando para trás o trabalho de uma vida, e aos que lá ficaram, que se viram envolvidos em guerras ferozes, que ele e todos os seus compinchas, guisaram nos sinistros bastidores do pós revolução, para entregarem o poder nas mãos dos seus camaradas, ultramarinos, da esquerda marxista e beligerente, quando o dever dos abrileiros era garantir a paz antes, e criar condições para a sua manutenção depois da independência?
Os camaradas da CML, teriam uma atitude mais patriótica, se em vez de solicitarem uma homenagem a este pirotécnico vermelho, fizessem uma justa homenagem aos militares da Amadora.
Se justiça houvesse, e não fosse um atentado à ortografia da gramática portuguesa: nem o seu nome se escreveria com letra maiúscula. Isto não é somente decadência, mas metamorfoses estéticas, com a ética rolando pelo esterco e expondo a sua imensurável deterioração, não como o lixo de aterro, mas como fragmentos alucinantes e desgrenhados sem destino. Tão loucos, tão loucos e incrivelmente banais, que envergonha quem se sente realmente português.