TEMPO SECO

Cabemos todos na terra?
Muitos de nós pensamos, e repensamos, que numa grande tensão bélica, como a que o mundo está vivendo, nem tudo será em vão mais tarde. A Bíblia está repleta de casos exemplares: onde a peste e a guerra chegaram primeiro, e depois da calcinação e da fome, a paz chegou e foram construídos palácios e armazéns de colheitas que tocaram o paladar do céu. Será que ainda podemos pensar assim?!
Muitos séculos, anos e meses se passaram desde aqueles tempos bíblicos, mas a Humanidade, apesar da sua falta de jeito e da sua corrupção, continuou de pé. Em marcha e disposta a sobreviver colaborando e não massacrando, recuperando o que se perdeu e não enterrando antes de rever sua utilidade. Esta grande tensão que nos leva a falar nesses termos em forma de sino, porque efetivamente, dia após dia, o sino toca pela morte de alguém pré-destinada, mas já se pressente a expansão do toque, da morte planeada. Planeada, por monstros irracionais e desprovidos de qualquer humanidade. Monstros incapazes de nos ouvir ou entender. Tão perversos na sua conceção e evolução, quanto blindados de todas as injeções de liquidez argumentativa que tentam diluí-los ou descartá-los. E aqui se vê claramente a incompetência dos governos. A sua superlativa incapacidade que, infelizmente, já verificamos antes em pequenos procedimentos. Governos a quem o povo tudo paga e que, à maneira do marajá de Kapurthala, são formados por equipes que não sujam as mãos na tarefa de governar a vida comum do cidadão, e muito menos no seu infortúnio extraordinário, para o qual eles próprios os empurraram. Nestes tempos, ninguém pede que os governos pratiquem uma ideologia firme ou se mostrem como defensores de uma missão social salvadora. Simplesmente, a demanda cidadã refere-se exclusivamente ao fato de que sendo poderosos, eles, a protejam, e sendo o seus escolhidos para governar trabalhem para velar e melhorar a vida daqueles que lhes deram tamanha honra. Ou será que eles são escolhidos -como deuses- para “ser o que são”, e para posar o seu charme e a sua desmedida petulância e nada mais? Um longo repertório de mentiras, injustiças e homicídios de inocentes, passa diariamente diante dos olhos dos governantes de hoje. - Mas, nem figuras sagradas, nem seres carismáticos, nem sábios do Oriente - sabem levá-los a corrigi-los. Já não se trata, na maioria dos casos, de intervir em litígios de natureza irrelevante e local, mas de dimensão mundial. O mundo inverteu-se e tornou-se um lugar perigoso para viver. O planeta convulsiona com a irracionalidade humana. Deveríamos, nesta etapa, estar unidos, para amenizar os efeitos dum futuro incerto e desordenado, pelas desastrosas ações, do homem, no presente e no passado. Ao invés, dessa almejada união, está cada vez mais latente uma imprudente e sinistra divisão. A loucura baniu de todo e depressa, a sensatez. Tudo o que noutros tempos serviu para apaziguar, serve agora para acirrar. A questão também, e em suma, tornou-se assim nesta abstração: ainda serve para alguma coisa, a democracia que temos por ideologia e nos governa? Se serve, e se é para servir com igualdade e dignidade a todos. Porque se comporta e age como as cleoptocracias, que já não se nota o que as distingue, ou onde acaba uma e começam as outras. E isto tudo tem a ver com a segurança mundial e o bem estar do planeta porque, por muito que queiramos inventar, não existe planeta B, para onde possam enviar, os bons ou os maus, deixando-nos num estranho dilema: de viver todos na Terra, quer queiramos ou não.