Quiet quitting (ou desistência silenciosa)


O fenómeno começou na China e propagou-se à velocidade da luz através de redes sociais como o TikTok: chama-se quiet quitting ou desistência silenciosa, no que poderá ser traduzido por uma recusa dos trabalhadores fazerem nem mais nem menos do que aquilo para que são pagos e dentro do horário legalmente contratualizado. O quiet quitting é uma reacção à precariedade e/ou aos baixos salários.
De acordo com Tonia Casarin, especialista em liderança, o quiet quitting é fruto da busca cada vez mais frequente por uma vida profissional equilibrada com os propósitos de vida de cada um. “Hoje as pessoas não querem mais trabalhar por trabalhar. Elas aspiram estar em lugares realmente alinhados a aquilo em que acreditam. No entanto, nem sempre estão em condições de pedir demissão. Com isso, o quiet quitting surgiu como uma forma de contestação silenciosa”, diz a pesquisadora. Segundo ela, é importante ressaltar que as pessoas que adotam essa atitude não querem ser demitidas, mas sim integrar a vida pessoal e a profissional de acordo com suas necessidades, livrando-se da “cultura tóxica” das empresas, que vem gerando cada vez mais problemas envolvendo a saúde mental da população
É importante lembrar que, cada vez mais, se fala sobre a saúde mental no trabalho, e que isso está diretamente ligado a este fenómeno já que empresas/instituições com cultura tóxica e gestores tóxicos contribuem para o enfraquecimento e baixa produtividade dos seus funcionários quando, entre outros aspetos, exigem uma carga de trabalho mais intensa do que o trabalhador pode suportar ou quando, pura e simplesmente, os superiores hierárquicos são incompetentes.
A primeira vez que ouvi falar sobre este fenómeno, lembrei-me de uma conversa com um amigo que, face à impossibilidade de subir hierarquicamente no seu emprego, e de não lhe ser reconhecido o devido mérito pelo trabalho que executa (com reflexos na remuneração), vê-se na necessidade de se “arrastar” na sua função. Para piorar a situação, o fato dos seus superiores serem pouco diligentes e assertivos, leva a que se desenvolvam sentimentos de frustração e de revolta perante o trabalho que afetam a produtividade e a motivação do trabalhador.
São necessárias mudanças, mas não é possível dispensar um compromisso individual e emocional com a empresa, nem deixar de estabelecer uma cooperação, entre trabalhador e empregador, ponderada e saudável.
Mas como que é que se alcança um novo equilíbrio entre o trabalho, a saúde mental e a vida pessoal e familiar? As grandes empresas deveriam dar o exemplo e, por sua própria iniciativa, assumirem um pacto de ética social com os trabalhadores. Aceitando que a motivação para o trabalho não se resume apenas à remuneração e à carreira, apesar da sua importância, mas começa pelo sentimento de que a pessoa se sente respeitada e reconhecida. A ética deveria servir para garantir uma justa valorização do trabalho porque é fonte de riqueza e oferece dignidade à vida humana.