A GUERRA


A guerra da Rússia contra a Ucrânia é todos os dias motivo de notícias em que se relata a destruição de prédios de habitação, a morte de soldados e civis, as dificuldades das pessoas que permanecem na Ucrânia, as quais cozinham na rua servindo-se da madeira proveniente dos prédios destruídos para acender o fogo necessário.
Desde os tempos mais remotos, sempre existiram guerras. Os motivos podem ser vários, mas geralmente não é difícil identificar o principal. No caso da guerra da Rússia contra a Ucrânia não restam dúvidas de que está em causa a disputa territorial. É lamentável que tal fundamento ainda seja capaz de desencadear uma guerra nos dias de hoje.
Nas guerras, a vida humana é completamente desprezada, não merecendo qualquer respeito. A segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945) causou a morte de 60 a 70 milhões de pessoas. A propósito, o livro “Histórias Desconhecidas da II Guerra Mundial”, de Jesús Hernandéz, relata alguns factos que põem em destaque o desprezo pelas vidas perdidas. Na batalha mais conhecida e mais importante desta guerra, a batalha de Estalinegrado, não se conhece quantos soldados soviéticos morreram, porque os historiadores russos não estavam autorizados a investigar, porque as autoridades receavam que se pudesse concluir que o preço pago por infligir aos alemães aquela derrota tão decisiva pudesse ser considerado demasiado elevado. Acredita-se, porém, que a vitória terá custado pelo menos meio milhão de mortos entre as suas tropas, a que deve ser acrescentado um número indeterminado de mortos civis, mas talvez um milhão ou mais, devido às ordens “categóricas” de Estaline para não abandonarem a cidade. Uma grande quantidade de soldados soviéticos morreu antes mesmo de chegar à cidade ao tentar atravessar o Volga desde a margem oriental, que estava a ser constantemente sujeita a bombardeamento aéreo, de artilharia e de fogo de metralhadora. Os que conseguiam chegar à cidade, ou seja, à margem ocidental, tinham de se colar ao chão e resistir. Se recuassem seriam executados por cobardia, como aconteceu a 13 mil soldados. Como conclui o autor do livro, a violência dos combates em Estalinegrado levou a que a esperança de vida de um soldado soviético, naquele cenário, fosse apenas de 24 horas.
No mesmo livro, um outro caso elucida igualmente acerca da importância que merece a vida humana, o que procurarei relatar em poucas palavras. De um modo geral, os generais evitam dar o corpo às balas, ficando longe dos locais onde elas sibilam. Porém, um general americano teve de se expor, ao liderar um assalto a uma colina. O general Orlando Ward, estacionado na Tunísia à frente da 1ª Divisão Blindada, tinha de liderar os seus homens sob as ordens do general George Patton, faminto de glória. Numa certa ocasião, Ward comentou com Patton que tinham tido muita sorte por não terem perdido oficiais no combate desse dia. Ficou, porém admirado com a resposta de Patton: “Raios, Ward, isso não é ter sorte! Isso é mau para o moral dos recrutas; quero que morram mais oficiais.” Incrédulo, Ward perguntou-lhe se estava a falar a sério. “Claro que falo a sério – respondeu-lhe. – Quero que envies vários oficiais como observadores para a primeira linha de fogo e que os deixes lá até que matem um par deles”.
Isto parece que não só ultrapassa o desprezo pela vida humana como chega ao ponto de valorizar o número de mortos do seu lado.